Semeando nuvens: a técnica que usa aviões e drones para fazer chover

Uma mancha de ar seco cobre mais de 3.000 km do território brasileiro desde segunda (9) e tornou o tempo tão seco que o ar em alguns estados pode ter umidade relativa igual a de um deserto. Para combater situações extremas como esta, alguns países já fazem chover artificialmente.

O que é a 'chuva de laboratório'

Chamado de cloud seeding, ou semeadura de nuvens, este processo produz chuvas artificialmente a partir da manipulação de nuvens já existentes. Ele é implantado quando as condições de vento, umidade e poeira são insuficientes para causar a precipitação.

As nuvens são compostas por minúsculos cristais de gelo ou gotículas de água, e se formam quando o vapor da água esfria na atmosfera. A precipitação — a água que cai na superfície como chuva ou neve — acontece quando essas gotículas se condensam e se combinam com partículas de poeira, sal ou fumaça. Essa ligação cria uma gota ou floco de neve, composto por milhões dessas gotículas, que fica "pesado" e cai de uma nuvem.

Na semeadura de nuvens, agentes químicos como iodeto de prata são lançados contra as nuvens e facilitam aglomeração das gotículas. Drones, pequenos aviões ou helicópteros voam entre as nuvens apontadas liberando as substâncias. Com essa intervenção, o vapor de água se condensa e vira chuva.

Protótipo de drone usado para estimular chuvas em Dubai
Protótipo de drone usado para estimular chuvas em Dubai Imagem: Universidade de Bath

Técnica não cria chuva, apenas antecipa. Ou seja, em regiões áridas, onde quase não há nuvens do céu ou os níveis de vapor de água são muito baixos, a semeadura não funciona.

Nem toda nuvem pode ser "bombardeada" para chover. As mais indicadas são as cumulus, que se formam no alto de montanhas. Temperatura e tamanho também precisam ser ideais, por isso as nuvens são selecionadas por meteorologistas antes da semeadura — por isso, o método ficou conhecido como "chuva de laboratório".

A técnica existe há décadas, e os Emirados Árabes a utilizam para ajudar no clima desértico da região. Segundo a revista Time Out Dubai, o programa de semeadura de nuvens do país começou no final da década de 1990 e produz no mínimo 15% de chuva adicional a cada ano. Durante as Olimpíadas de Pequim, em 2008, o governo chinês também semeou nuvens para evitar que a estiagem prejudicasse os jogos.

No entanto, ainda é difícil determinar o real impacto da semeadura de nuvens na precipitação. De acordo com a CNN, não existem muitos estudos controlados que realmente mostrem que foi o método que fez chover de maneira relevante. Mas a técnica pode estar envolvida em um dilúvio que aconteceu em abril em Dubai.

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Técnica pode ser tóxica ao meio ambiente

Agentes químicos usados se misturam à água da chuva. Conhecidos como aglutinadores, estes produtos trazem riscos a organismos vegetais e animais.

O iodeto de prata em excesso causa argiria em algumas espécies, inclusive em humanos. A argiria é uma forma de intoxicação em que os olhos e a pele adquirem uma coloração azulada. Em microorganismos, o iodeto ainda pode diminuir a atividade anaeróbica (respiração sem oxigênio) e provocar desequilíbrio a ecossistemas.

Chuvas artificiais podem criar desequilíbrios climáticos. Há riscos de uma indução de desastres, como inundações.

Fontes: Juliana Cordeiro e Luis Geraldo Cardoso dos Santos, professores do curso de Engenharia Química do Instituto Mauá de Tecnologia.

*Com informações de matérias publicadas em 09/01/2020 e 19/04/2024.

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