Julgamento do Google: ex-executivo diz que empresa queria 'esmagar' rivais
De Tilt, em São Paulo
13/09/2024 15h11
Um ex-executivo do Google teria admitido para colegas que o objetivo da empresa era "esmagar" os concorrentes que tinham serviços de anúncios online. A novidade faz parte do julgamento do processo antitruste movido pelos Estados Unidos contra a gigante da tecnologia.
O Google é acusado de monopolizar o mercado de anúncios digitais, impactando negativamente a concorrência. Os promotores apresentaram a nova prova contra a empresa, vinda de uma reunião realizada entre 2008 e 2009, na última quarta (11).
Mensagens à equipe viraram prova 16 anos depois
No terceiro dia de julgamento, na quarta (11), os promotores apresentaram evidências contra o monopólio vindas de funcionários.
A principal delas veio de David Rosenblatt, ex-presidente de publicidade gráfica do Google. Ele comentou a estratégia da empresa para os anúncios online em mensagem enviada a um colega entre o final de 2008 e início de 2009.
As conversas atribuídas ao executivo foram expostas em notas escritas mostradas no tribunal. "Nós seremos capazes de esmagar as outras redes e esse é nosso objetivo", teria afirmado ele em um dos trechos.
O Google nega as alegações de que monopolizou o mercado, afirmando que enfrenta "uma competição feroz". Rosenblatt foi contratado pelo Google em 2008 quando a empresa comprou sua empresa de publicidade digital. Ele ficou apenas um ano.
As conversas expostas pela promotoria também mostraram o executivo discutindo as vantagens de dominar todos os aspectos do mercado de anúncios.
O Google criou algo comparável à NYSE ou à Bolsa de Valores de Londres; em outras palavras, faremos pela publicidade o que o Google fez pelas buscas.
teria dito Rosenblatt
A Reuters, que divulgou o conteúdo das notas, tentou procurar Rosenblatt, mas ele não retornou o contato. Brad Bender, que também tinha sido executivo na DoubleClick executive e trabalhou no Google até 2022, foi testemunha no julgamento e confirmou que encaminhou as mensagens ao resto de sua equipe, definindo-as como uma "leitura que valia a pena" à época.
O que aconteceu
O Google foi acusado pelo DOJ (Departamento de Justiça) dos EUA e vários estados por dominar o mercado de anúncios digitais, prejudicando a competição e afetando diretamente as empresas de mídia.
A companhia perdeu um caso histórico no mês passado, quando foi condenada por práticas monopolistas na indústria de buscas, o que pode levar o Google a abrir mão do sistema operacional Android ou do navegador Google Chrome.
Agora, o DOJ argumenta que o Google controla mais de 90% dos servidores de anúncios e 85% das redes de anúncios, consolidando sua posição como intermediário no setor publicitário. No processo, cita várias aquisições que levaram ao domínio da publicidade digital, como a DoubleClick, a Invite Media e a AdMeld, que resultaram no controle do Google sobre os lados da oferta e da demanda da publicidade online.
As ferramentas de publicidade do Google geraram mais de 75% de sua receita total em 2023. Com uma receita de US$ 307,4 bilhões (R$ 1,73 trilhão), a maior parte do faturamento da empresa vem de sua dominância no mercado de anúncios digitais, conforme relatado pela Reuters
O DOJ pede a dissolução do Google. Os reguladores afirmam que a medida é necessária para restaurar a competição justa no mercado, que foi comprometida pelo domínio da empresa.
Os monopólios do Google em cada um desses mercados separados não foram um acidente, mas sim o resultado de uma campanha para condicionar, controlar e tributar as transações de publicidade digital ao longo de 15 anos. Esta campanha foi excludente, anticompetitiva e se reforçou mutuamente Departamento de Justiça em documento pré-julgamento
O domínio do Google contribuiu para o declínio de um terço dos jornais nos EUA desde 2005. Segundo o DOJ, a consolidação no mercado de publicidade digital prejudicou diretamente o jornalismo, que depende das receitas de anúncios para sobreviver. O órgão pretende apresentar documentos internos do Google e depoimentos para provar isso.
Depoimentos de grandes empresas de mídia e executivos do Google serão centrais no julgamento. Executivos da News Corp e Daily Mail podem testemunhar contra o Google, enquanto a empresa pretende chamar pequenas empresas para argumentar que uma eventual separação prejudicaria a inovação e elevaria os custos de publicidade. (Com informações da Reuters e do The Guardian)