Afinal, por que engasgamos com a nossa própria saliva?
Quem nunca passou pela situação de engasgar sem motivo aparente, bem no meio de uma história empolgante, quando está falando sem parar? Se há apenas saliva dentro da boca, o que deu errado?
A resposta simples é que engasgamos quando rola uma descoordenação no processo de engolir — alimentos, líquidos ou simplesmente o cuspe que está por ali. Isso geralmente acontece quando comemos e bebemos grandes volumes muito rapidamente ou quando falamos sem pausa.
O normal é que a saliva produzida na boca vá para o estômago quando a deglutimos e engolimos, mas nesses casos ela vai em direção à traqueia e causa o engasgo.
Frequência dos engasgos
Os engasgos com saliva são pontuais em pessoas saudáveis. Eles são mais frequentes em idosos, já que o processo de envelhecimento faz com que a sensibilidade e motricidade da garganta diminua, e em pacientes que tiveram derrames ou sofrem de doenças neurológicas degenerativas.
Também é mais comum engasgar quando se consome álcool ou remédios em excesso, porque o movimento dos músculos da garganta é afetado.
O "segredo" está em nossa estrutura
Para entender melhor o engasgo, vale entender como os músculos da boca e da garganta trabalham quando dá tudo certo, ou seja, quando engolimos algum alimento ou líquido corretamente.
Segundo os cientistas, a musculatura funciona como uma orquestra, em uma sequência perfeita:
- A comida (ou líquido) é empurrada com a língua para a parte de trás da boca, entra na faringe e dá início ao reflexo da deglutição;
- O palato mole (parte de trás do céu da boca) se desloca para evitar que o conteúdo suba para a cavidade nasal, e a língua impede que ele retorne para a boca;
- Então, a glote (espaço entre as cordas vocais) se fecha, e a laringe se move para cima e para frente tampando o caminho da traqueia.
Se algo inesperado acontece nesse processo, é engasgo na certa.
Em casos mais dramáticos, isso pode causar uma forte tosse, dificuldade de falar e respirar, levando a desmaios e até a morte.
Evolução humana
Sabe quem não tem problemas com engasgos? Os chimpanzés, que têm crânios com proporções bem diferentes das nossas — é bom lembrar que humanos e macacos possuem um ancestral comum na evolução.
Nossos rostos muito mais achatados têm mais espaço para nossas línguas (mais redondas) se movimentarem.
Newsletter
Um boletim com as novidades e lançamentos da semana e um papo sobre novas tecnologias. Toda sexta.
Quero receberAo mesmo tempo que essa anatomia demanda uma sequência afiadíssima para a deglutição funcionar, é ela que também nos dá a incrível capacidade de produzir sons complexos, ou seja, de falar — algo que os chimpanzés não fazem como nós.
Num estudo de 2022, cientistas observaram que, ao longo da evolução humana, a laringe se simplificou em relação a outros primatas, ao contrário de ter ganhado maior complexidade. Isso permitiu "a produção de som mais clara com menos caos auditivo."
*Com informações do canal SciShow e reportagem de julho de 2023
**Fontes: Alfredo Salim Helito, especialista em clínica médica; Fernando Veiga Angélico Junior, mestre em Ciências da Saúde e professor de otorrinolaringologia.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.