Muito além da 'mente conturbada': física 'explica' obra famosa de van Gogh

Obra-prima de pintor holandês Vincent van Gogh vai além da arte. Segundo pesquisa, "A Noite Estrelada" ilustra dinâmicas da atmosfera descritas por leis da física.

O que aconteceu

Estudo sobre a obra do pintor foi publicado na revista científica Physics of Fluids. A publicação, divulgada na última terça-feira (17), é resultado de parceria entre físicos de universidades da China e da França.

Pintado em 1889, quadro é óleo sobre tela e se tornou uma das obras mais famosas da arte. Uma das teorias que explicariam a ideia por trás de "A Noite Estrelada" indica que a turbulência vista nos céus seria o retrato da mente conturbada de Van Gogh à época. No entanto, os especialistas responsáveis pelo estudo analisaram a obra do holandês por um viés técnico, utilizando padrões conhecidos na física e aplicando equações matemáticas à pintura, com a intenção de compreender se houve alguma referência a mais na inspiração do pintor.

Especialistas em dinâmica de fluidos analisaram pinceladas em espiral no céu. A ilusão de movimento criada por Van Gogh a partir do padrão giratório das linhas foram avaliadas a partir de imagem digital da obra em alta resolução. Os pesquisadores conseguiram medir com precisão as pinceladas nos vórtices espalhados pelo céu para reconstruir a dinâmica real da atmosfera, comparando o tamanho das pinceladas com as escalas matemáticas descritas em teorias de turbulência.

Retrato da energia cinética? O brilho das cores utilizadas pelo pintor, predominantemente em tons de azul e amarelo, foram considerados pelos especialistas como o retrato da energia cinética no ar.

van Gogh conseguiu retratar na obra leis estudadas pela física

Pesquisa indica que obra de Van Gogh reflete a lei de Kolmogorov e a escala de Batchelor. A lei de Kolmogorov descreve a relação matemática entre as flutuações na velocidade de um fluxo e a taxa na qual sua energia se dissipa. Já a escala de Batchelor representa matematicamente como pequenas partículas à deriva são passivamente misturadas por um fluxo maior e turbulento. O caos formado por redemoinhos maiores, que podem colidir e se dividir em espirais menores, foi retratado por van Gogh em sua obra.

Este resultado sugere que Van Gogh fez uma observação muito cuidadosa dos fluxos reais, de modo que não apenas os tamanhos dos redemoinhos em 'A Noite Estrelada', mas também as suas distâncias relativas e intensidade seguem a lei física que rege os fluxos turbulentos
Trecho oficial do estudo publicado na Physics of Fluids

Resultado impressionou pesquisadores. Yongxiang Huang, pesquisador do Laboratório Estatal de Ciências Ambientais Marinhas e da Faculdade de Ciências do Oceano e da Terra da Universidade de Xiamen, na China, e coordenador do estudo, acredita que a representação precisa da turbulência por Van Gogh pode derivar do "estudo do movimento das nuvens e da atmosfera ou de um senso inato de como capturar o dinamismo do céu" por parte do pintor.

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Considerada um dos grandes feitos na carreira do pintor, tela está na coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) desde 1941. "A Noite Estrelada" retrata a vista da janela do quarto do asilo em Saint-Rémy-de-Provence, no sul da França, onde van Gogh se internou após mutilar a orelha esquerda.

Atenção de Van Gogh em padrões no céu já havia sido estudada por italianos. O astrofísico Gianluca Masi e a matemática Antonella Basso analisaram a obra "Noite estrelada sobre o Ródano". A partir de cálculos e simulações, os especialistas conseguiram definir a data em que o quadro foi pintado, 28 de setembro de 1888, e concluíram que o céu reproduzido foi observado por van Gogh em Arles, na França. Segundo Masi e Antonella, a posição da constelação Ursa Maior na data indicada era a mesma da pintura, indicando que Van Gogh pintou a obra em tempo real, em cerca de meia hora.

*Com informações da ANSA.

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