Sexo selvagem e radiação: 5 segredos do tardígrado, o bicho 'duro de matar'

Animais mais resistentes do mundo de que a ciência tem notícia, os tardígrados são envoltos em mistérios que pesquisadores só têm desvendado recentemente.

Os curiosos bichos, apelidados de ursos d'água, são muito difíceis de matar. Sobrevivem ao calor extremo, ao congelamento, à falta de água e até ao vácuo do espaço. Ainda assim, aspectos simples de sua existência eram desconhecidos até pouco tempo atrás, como a forma de se locomover, por que alguns exemplares brilham e a única ameaça a ele.

Microscópicos, esses animais possuem corpo segmentado e não passam de 0,5 milímetro de comprimento. Com oito patas, todas as suas 1.300 espécies vivem na água. Conseguem sobreviver a temperaturas extremas, que vão dos -270°C até os 150°C. Também suportam o vácuo do espaço e podem viver 30 anos sem água e sem comida.

Tardígrado
Tardígrado Imagem: Getty Images/UOL

Resistência microscópica

Cientistas descobriram que a estratégia de sobrevivência dos tardígrados é simples, mas eficaz: eles retraem suas oito patas e a cabeça e se deixam desidratar.

Quando fazem isso, os bichinhos se encolhem a ponto de virar uma pequena bola e entram em um estado profundo de animação suspensa que se parece muito com a morte. Ao perder quase toda a água do corpo, o metabolismo deles diminui para 0,01% da taxa normal.

Como se locomovem

Foi só em 2021 que cientistas, liderados por Jasmine Nirody, pesquisadora do Centro de Estudos da Universidade Rockefeller em física e biologia de Nova York, descobriram como o tardígrado se locomove.

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Eles dividem o esforço da locomoção entre as seis primeiras patas. Até por isso as duas últimas, mais perto da parte traseira, possuem menos músculos.

Os animais levantam uma pata por vez quando estão se deslocando lentamente, mas usam três ao mesmo tempo, para ganhar velocidade — uma na frente e outra atrás do mesmo lado do corpo, e uma no meio do outro lado.

Eles se movimentam melhor se estiverem em uma superfície em que podem cavar e empurrar o corpo com as garras.

O jeitão do tardígrado se movimentar é parecido com animais invertebrados com corpos segmentados e pernas articuladas que pertencem ao filo dos artrópodes. Entretanto, o estudo não conseguiu definir como um dos menores animais do mundo anda parecido com insetos tão maiores do que eles.

A primeira teoria é que tardígrados e artrópodes compartilham um antepassado em comum milhões de anos atrás. Porém, os cientistas também consideram a possibilidade de esse padrão de movimento ter sido desenvolvido individualmente quando suas linhas ancestrais se separaram.

Brilha no escuro

Das 1.300 espécies desses pequenos animais, os tardígrados do tipo Paramacrobiotus BLR, recém-descobertos, produzem um brilho azul intenso como mecanismo de defesa em caso de exposição à radiação ultravioleta.

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A descoberta foi revelada ao mundo apenas em 2020. Esses bichinhos conseguiam, de alguma forma, absorver a radiação fatal e a converter em luz azul inofensiva. Essa é a primeira evidência experimental de moléculas fluorescentes protegendo animais da radiação.

O que pode aniquilá-lo

Apesar de serem muito habilidosos em se manter vivos, os tardígrados possuem uma ameaça natural, descoberta por cientistas da Universidade de Copenhague, na Dinamarca: o aquecimento global.

Essa informação dispara uma pergunta inevitável: se são tão resistentes ao frio e ao calor, quanto a temperatura da água teria que aumentar para ser um problema? Segundo os cientistas, não se trata da temperatura, mas do tempo de exposição a ela.

Como o aquecimento global deve elevar a temperatura média em alguns graus, os cientistas testaram o efeito dessa elevação nos tardígrados.

Durante o estudo, apenas as 50% das espécies metabolicamente ativas submetidas a temperaturas de 37,1º C, sem aclimatação, por 24 horas, conseguiram sobreviver. Aquelas espécies aclimatadas antes de serem submetidas a 37,1º C conseguiram sobreviver em maior porcentagem.

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Os pesquisadores constataram, porém, que quando estavam desidratados, os bichos conseguiam suportar temperaturas próximas a 60° C.

Sexo selvagem?

Uma pesquisa curiosa indicou que os tardígrados são adeptos de um, digamos, sexo selvagem.

Ao monitorar o comportamento de três dessas criaturas, o pesquisador James Weiss percebeu nas imagens que os dois menores tardígrados (possivelmente machos) se mostraram atraídos pelo ventre de terceiro maior (fêmea). E isso se prolongou por mais de 20 minutos.

O animal maior parecia carregar ovos não fertilizados. Weiss disse acreditar que a fêmea defecou enquanto os machos cutucavam seu ventre.

O processo pode ter sido uma maneira de atrair os machos. "Acredito que haja alguma sinalização química acontecendo e, bem, o cocô libera muitos sinais na água", acrescentou.

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Depois de 30 minutos, os três tardígrados se separaram. Só dois deles (macho e fêmea) permaneceram juntos por mais de uma hora.

O especialista em microscopia disse observar que o processo de acasalamento na sequência envolve o macho se fixar na fêmea para liberar milhares de espermatozoides em um movimento rítmico. Cientistas ainda não descobriram como a fertilização ocorre.

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