Criada pelo 'Dr. Morte': como é a cápsula de suicídio que levou a prisões

O uso de uma cápsula de suicídio assistido na Suíça fez um grupo de pessoas serem presas por "não estar em conformidade com a lei".

A prática é legalizada no país, porém, a morte de uma cidadã dos EUA, de 64 anos, que sofria de uma doença imunológica severa, fez com que autoridades interviessem e prendessem os envolvidos. O ato supostamente feriu lei de produtos químicos e não atende aos "requisitos de segurança" estabelecidos no país.

O que é a cápsula

Chamada de Sarco, a cápsula é um dispositivo de suicídio assistido sem assistência médica. O formato da máquina é semelhante a um caixão.

A morte ocorre ao pressionar um botão que libera nitrogênio. Acredita-se que a pessoa perca a consciência após poucos segundos e, na sequência, morra. Apenas quem está dentro do dispositivo consegue ativá-lo. O usuário precisa deitar-se dentro dela e responder a uma série de perguntas para confirmar que compreende o que está fazendo.

Todo o processo não dura mais que 30 segundos e não há pânico ou sensação de asfixia. Interior do dispositivo é repleto de nitrogênio após botão ser pressionado, o que reduz o nível de oxigênio de 21% para 1%. A pessoa se sente um pouco desorientada, podendo até se sentir eufórica antes de perder a consciência. A morte ocorre por hipoxia e hipocapnia, que são privação de oxigênio e dióxido de carbono, segundo o inventor do equipamento.

Inventor da Sarco é o austríaco Philip Nitschke, que é conhecido como "Doutor Morte". Ele é médico e comediante e ficou conhecido por ter queimado seu diploma publicamente em 2015. Foi o primeiro médico a administrar injeções letais voluntárias legalmente para pacientes terminais.

 Visão interna da cápsula de suicídio assistido Sarco. Máquina tem formato de caixão e é feita com impressora 3D
Visão interna da cápsula de suicídio assistido Sarco. Máquina tem formato de caixão e é feita com impressora 3D Imagem: Arnd Wiegmann/AFP

Pode ou não pode?

A Suíça autoriza o suicídio assistido por médicos, e isso ocorre sob condições muito específicas. A pessoa deve estar mentalmente capaz de tomar a decisão, deve estar sofrendo de uma doença terminal ou condição médica irreversível, além de passar por uma avaliação de um profissional e poder administrar a substância letal.

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País europeu não permite a eutanásia. Neste procedimento, há um terceiro administrando uma substância letal, enquanto no suicídio assistido é a própria pessoa quem "executa" a substância letal.

Por permitir o suicídio assistido, a Suíça virou o país onde a Sarco poderia ser usada. Mesmo assim, apesar de toda publicidade, havia a expectativa de quando ocorreria a primeira morte ocasionada por ela.

Philip Nitschke, o Doutor Morte, à direita
Philip Nitschke, o Doutor Morte, à direita Imagem: Twitter/Philip Nitschke

Morte da americana de 64 anos foi a primeira que se tem notícia e ocorreu em 23 de setembro. Antes disso, a candidata era uma mulher de cerca de 50 anos. Ela, no entanto, não foi adiante, pois houve agravamento de seu estado de saúde mental

Primeira morte está sendo investigada. "A polícia de Schaffhausen, incluindo o serviço forense e a promotoria do cantão, intervieram no local dos fatos", diz o comunicado da polícia. Além disso, é dito que "a cápsula de suicídio Sarco foi confiscada e o corpo da pessoa falecida foi transferido para autópsia".

"Cápsula não está em conformidade com a lei", disse ministra do Interior da Suíça, Elisabeth Baume Schneider, em sessão de perguntas. Ela ainda disse que o dispositivo "não atende os requisitos de segurança" e que "não é compatível" com a lei de produtos químicos.

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"Pacífica, rápida e digna". Essa foi definição sobre a morte da mulher dita por Florian Willet, copresidente da The Last Resort, a associação que promove a Sarco. Ela ainda disse que o procedimento foi feito "sob as árvores", em uma área florestal privada. Entidade diz que seguiu "conselhos legais de seus advogados" que, desde 2021, "sempre consideraram que o uso do Sarco na Suíça seria legal".

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Caso você ou algum conhecido precise de ajuda, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV), que dá apoio emocional e preventivo ao suicídio. Ligue para 188 (número gratuito) ou acesse www.cvv.org.br.

*Com informações de AFP, RFI e reportagem de dezembro de 2021

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