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Sala de controle da 'Nasa' e 4 bilhões de simulações: o que descobri na F1

Cada carro da RBR carrega centenas de sensores para colher dados Imagem: Mark Thompson/Getty Images

De Tilt, em São Paulo

02/11/2024 12h00

Quatro bilhões de simulações e 11.000 gigabytes a cada sessão na pista: esses são alguns dos números por trás das estratégias da Red Bull Racing em um final de semana na Fórmula 1.

Jack Harington, gerente de parcerias da Oracle Red Bull Racing, explica que a principal função de todos esses dados é deixar a equipe preparada para o máximo de cenários possíveis.

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"É como se você fosse apostar em uma roleta, em um cassino de Monte Carlo, que tem números pretos e vermelhos. Você joga cinco vezes no vermelho, vence 4 das 5 e pensa: 'essa é a aposta certa'. Mas se você jogasse 1 milhão de vezes, veria que as chances são quase 50/50."

As simulações são mais úteis quando o assunto é a degradação de pneus. Quanto mais voltas um pneu tem, maior o seu desgaste. Com isso, os carros perdem a aderência e ficam menos sob controle, aumentando o tempo por volta — e deixando o piloto mais vulnerável as ultrapassagens dos adversários.

A ideia é prever o máximo possível a vida útil de um jogo de pneus, para evitar esse cenário.

"Estamos introduzindo nossas simulações de estratégia com todos os dados que temos sobre pneus e a interação deles com as zebras (na F1, a borracha se desgasta mais ao passar nelas). Vamos supor, se tivermos uma bandeira amarela na volta 3, como isso pode afetar o momento em que vamos para o pit stop? Podemos ficar mais tempo com aqueles pneus? O que outro time fará nessa situação? Com 20 carros na pista e 50 a 70 voltas, o número de trocas e variações é enorme, mas se algo acontecer, teremos uma simulação pra aquilo", explica Harington.

Desde 2021, quando a Red Bull virou parceira da Oracle, sua capacidade de simulações aumentou 25%. A empresa norte-americana é especializada em gerenciamento de bancos de dados.

Hoje, a equipe usa um sistema inspirado no que é utilizado pelo mercado financeiro para prever a performance de ações e cotas de mercado.

"Usamos o mesmo sistema que instituições bancárias para fazer previsões. Temos dados em tempo real, que vão da pista para nossa rede administradora, até a fábrica em Milton Keynes e também para a nossa nuvem da Oracle, onde vão ser montadas as simulações antes mesmo do final de semana. E depois dos nossos treinos livres, pegamos os dados vindo do carro."

Em um final de semana de corrida, cada equipe pode levar apenas 60 pessoas que mexem diretamente no carro para o circuito — incluindo engenheiros, mecânicos ou qualquer outra pessoa que toque no carro ou influencie em como ele performa.

Mas na fábrica existe uma sala de operações com outro time, comparada por Harington a uma sala de controle da NASA.

"Nós temos outras 60 pessoas que estão nessa sala também olhando para os dados. Na verdade, nós conversamos realmente com alguns consultores da NASA sobre como eles se comunicam durante o lançamento de um foguete. Eles (os dados) vão do GP de Melbourne, na Austrália, de volta para o Reino Unido, em cerca de 4.4 milissegundos."

Existem cerca de 300 sensores instalados em cada carro da RBR. Eles monitoram parâmetros como a temperatura do motor, freios e forças G.

Mas, é claro, se algum carro quebrar, a medição de milhões de dados vai por água - ou muro - abaixo.

"É importante que tenhamos essa forma de nos debruçar sobre o material retirado para que possamos tomar decisões úteis para o nosso carro e nossas estratégias sem ficar: e agora, o que devemos fazer? Sem que as emoções interfiram tanto, pensando apenas no que os dados oferecem, sendo atualizados em tempo real. Tivemos uma corrida no ano passado em que chegamos até 8 bilhões de simulações, para tentar prever inclusive o que os estrategistas adversários poderiam fazer, é um grande ganho para nós."

Os dados também ajudam no desenvolvimento do motor. Com a parceria Red Bull Oracle, as simulações de fluxo de ar e outros sistemas da Unidade de Potência aumentaram 20%.

Outras equipes de Fórmula 1 têm seus parceiros tecnológicos, mas o membro da Red Bull não se atreve a comentar se os concorrentes têm ferramentas mais ou menos avançadas que a sua.

"Toda grande empresa de tecnologia está, em algum nível, envolvida com alguma equipe. O que posso dizer é que fazemos bem mais que surfar nas páginas da Oracle, estamos utilizando-as para ganhar performance. A F1 é um grande banco de testes para a tecnologia porque os nossos prazos não mudam. Não podemos mudar qual é o final de semana da corrida porque algo está faltando no nosso desenvolvimento."

E a participação da Inteligência Artificial na Fórmula 1? Harington faz segredo sobre o uso de IA, brincando que poderia ter problemas se falasse demais, mas destaca que a tecnologia deve crescer na categoria.

"Nós estamos vendo do que ela é capaz, usando alguns modelos. Eu acho que nós, na Fórmula 1, ainda estamos em uma jornada para implementá-la. Mas eu tenho certeza de que é algo que vai se tornar dominante nas nossas operações", completa o britânico.

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