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Contra monopólio, departamento dos EUA pressiona Google a vender Chrome

Justiça dos EUA decidiu em agosto que Google detém monopólio de buscas online Imagem: Paraesh Dave/Reuters

Colaboração para o UOL, de Belo Horizonte, e de Tilt, em São Paulo*

19/11/2024 16h36

O DOJ (Departamento de Justiça dos Estados Unidos) pode obrigar o Google a vender o navegador Chrome, segundo informou a Bloomberg nesta segunda-feira (18).

O que aconteceu

O Chrome, o navegador mais usado em todo o mundo, seria um ponto de acesso importante ao buscador da empresa. Segundo dados do StatCounter, o Chrome detém quase 67% do mercado.

A venda do Chrome seria uma das consequências de um processo julgado em agosto. Na época, o juiz Amit Mehta considerou o Google "um monopólio ilegal", especialmente através de contratos que impõe seu mecanismo de busca como padrão em dispositivos eletrônicos.

De acordo com o StatCounter, o Google responde por quase 90% de todo o mercado de buscas no mundo. Dados compilados pela Bloomberg mostram que a maior parte da renda do Google vêm de anúncios.

Ter o navegador mais popular do mundo é a chave para o sucesso do Google, segundo a Bloomberg. A empresa consegue pegar os dados dos usuários conectados ao navegador para direcionar promoções de maneira mais eficaz, o que gera mais receita.

O DOJ também irá pedir ao juiz Amit Mehta que exija medidas relacionadas à inteligência artificial e ao sistema operacional Android, disseram fontes à Bloomberg. O Android é líder de mercado em sistemas operacionais pelo mundo, com quase 45% de participação, segundo o StatCounter. A venda do Android, entretanto, não estaria em jogo.

Além disso, as autoridades antitruste planejam recomendar ao juiz Amit Mehta que imponha requisitos de licenciamento de dados. Caso o juiz aceite a proposta, ela poderá remodelar o modelo de buscas online e a indústria de inteligência artificial.

Lee-Anne Mulholland, vice-presidente de assuntos regulatórios do Google, disse à Bloomberg que o DOJ está promovendo uma agenda radical, que vai muito além das questões legais. "Se o governo controlar dessa forma, prejudicaria os consumidores, os desenvolvedores e a liderança tecnológica americana, precisamente no momento em que é mais necessária".

DOJ versus Google

DOJ processou o Google por considerar que a empresa tinha monopólio de buscas e publicidade digital. O processo começou em 2020 e culminou em agosto, com o juiz Amit Mehta considerando, de fato, a empresa um monopólio, com grande controle nessas áreas.

Alta quantia paga para manter o Google como buscador padrão foi prova de prática anticompetitiva. A companhia pagava bilhões por ano em acordos de exclusividade para ser o buscador padrão em iPhones (líder de mercado nos EUA), celulares da Samsung, além de navegadores (Firefox e Safari, da Apple). Estima-se que foram gastos US$ 26 bilhões desde 2021.

Empresa é acusada de privilegiar produtos próprios em detrimento de concorrentes. Nos EUA, o site de recomendações Yelp, por exemplo, sempre foi crítico à empresa, argumentando que resultados de serviços do Google apareciam melhor que o deles.

Negócio de publicidade é visto como vetor para queda de jornais nos EUA. A consolidação do mercado de publicidade digital prejudicou o jornalismo, que depende de receitas de anúncios para sobreviver.

'Remédio' sugerido pelo DOJ é o desmembramento da empresa. Na prática, isso quer dizer que empresa pode ter que vender se desfazer de parte de seus negócios, como o navegador Chrome.

Órgão também pede o fim de acordos relacionados à busca e considera solicitar medidas educacionais para que Google explique aos usuários qual sistema de busca mais se encaixa no perfil de uso. Sistemas de busca DuckDuckGo e Bing, da Microsoft, podem ganhar espaço e preço para milhares de anúncios pode baixar.

Por outro lado, a IA pode perder força. Analistas ouvidos pela Reuters apontam que, com menos receita, a empresa poderia perder poder para treinar inteligência artificial generativa, favorecendo o ChatGPT, da OpenAI, e o Claude, da francesa Anthropic.

Escrutínio do DOJ é sem precedentes. A investigação do Google visa reduzir o poder de big techs e pode respingar em Meta, Amazon e Apple.

Estamos considerando correções comportamentais e estruturais que preveniriam o Google de usar produtos, como Chrome, Play e Android, de terem vantagem em busca do Google ou em produtos e recursos relacionados ao Google --incluindo recursos de inteligência artificial--, para prevenir rivais ou novos competidores
Documento do Departamento de Justiça dos EUA

(O Google é) uma empresa complicada, que tem uma quantidade enorme de alavancas operacionais para alcançar o que deseja, e por isso precisa ser correspondida com um conjunto igualmente amplo de medidas complementares, incluindo desinvestimentos quando necessário
John Kwoka, professor da Northeastern University, ao Financial Times

Se o tribunal dividisse o Google, isso não mudaria essas condições monopolísticas. Uma divisão também seria uma punição excessivamente severa para uma empresa que alcançou grande parte de seu sucesso por meio de suas inovações em busca
Michael Cusumano, professor de gestão do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), ao FT

(Com AFP e Reuters)

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