Governo dos EUA pede à Justiça que Google seja obrigado a vender o Chrome
De Tilt, em São Paulo
21/11/2024 08h46
O governo dos Estados Unidos pediu que a Justiça ordene que o Google venda o navegador Chrome. A ofensiva dessa quarta-feira (20), vista como uma tentativa de "desmantelamento" da gigante da internet, é justificada pelos EUA como uma ação antimonopólio.
O que aconteceu
Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) pediu proibição de acordos para que Google seja mecanismo de busca padrão em celulares. As requisições foram protocoladas em ação judicial, depois que um juiz considerou monopólio esse tipo de acordo feito especialmente com a Apple.
Empresa pode ter que vender o Android. Caso as soluções propostas não impeçam a empresa de usar o controle do sistema operacional a seu favor, há chance de exigir-se a cisão do Google, o que seria uma mudança profunda.
Google pode apresentar recurso. A expectativa é de que a empresa apresente suas recomendações em um documento em dezembro e que as duas partes apresentem seus argumentos a um juiz federal. O processo deve ser prorrogado por vários anos, e a decisão final pode ficar com a Suprema Corte.
"Agenda radical", diz empresa. Em entrevista à Bloomberg, Lee-Anne Mulholland, vice-presidente de assuntos regulatórios do Google, afirmou que o DoJ promove uma agenda radical que vai além das questões legais. "Se o governo controlar dessa forma, prejudicaria os consumidores, os desenvolvedores e a liderança tecnológica americana, precisamente no momento em que é mais necessária".
DoJ versus Google
DoJ processou o Google por considerar que a empresa tinha monopólio de buscas e publicidade digital. O processo começou em 2020 e culminou em agosto, com o juiz Amit Mehta considerando, de fato, a empresa um monopólio, com grande controle nessas áreas.
Alta quantia paga para manter o Google como buscador padrão foi prova. A companhia pagava bilhões por ano em acordos de exclusividade para ser o buscador padrão em iPhones (líder de mercado nos EUA), celulares da Samsung, além de navegadores (Firefox e Safari, da Apple). Estima-se que foram gastos US$ 26 bilhões desde 2021.
Empresa é acusada de privilegiar produtos próprios em detrimento de concorrentes. O negócio de publicidade também é visto como vetor para queda de jornais nos EUA, já que o jornalismo depende de receitas de anúncios e de alcance para sobreviver.
'Remédio' sugerido pelo DoJ é o desmembramento da empresa. Na prática, isso quer dizer que empresa pode ter que vender se desfazer de parte de seus negócios, como o navegador Chrome ou o Android.
Por outro lado, a IA pode perder força. Analistas ouvidos pela Reuters apontam que, com menos receita, a empresa poderia perder poder para treinar inteligência artificial generativa, favorecendo o ChatGPT, da OpenAI, e o Claude, da francesa Anthropic.
Escrutínio do DOJ é sem precedentes. A investigação do Google visa reduzir o poder de big techs e pode respingar em Meta, Amazon e Apple.
Estamos considerando correções comportamentais e estruturais que preveniriam o Google de usar produtos, como Chrome, Play e Android, de terem vantagem em busca do Google ou em produtos e recursos relacionados ao Google --incluindo recursos de inteligência artificial--, para prevenir rivais ou novos competidores
Documento do Departamento de Justiça dos EUA
(O Google é) uma empresa complicada, que tem uma quantidade enorme de alavancas operacionais para alcançar o que deseja, e por isso precisa ser correspondida com um conjunto igualmente amplo de medidas complementares, incluindo desinvestimentos quando necessário
John Kwoka, professor da Northeastern University, ao Financial Times
Se o tribunal dividisse o Google, isso não mudaria essas condições monopolísticas. Uma divisão também seria uma punição excessivamente severa para uma empresa que alcançou grande parte de seu sucesso por meio de suas inovações em busca
Michael Cusumano, professor de gestão do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), ao FT
(Com AFP e Reuters).