Inversão em polos da Terra causou caos há 42 mil anos; pode rolar de novo?
De Tilt
25/11/2024 05h30
Se você assistiu ao filme "2012", lançado em 2009, vai se lembrar que os terremotos, tsunamis e as milhões de mortes provocadas por essas catástrofes naturais ocorreram após a reversão dos polos magnéticos do nosso planeta. Tudo parece ficção, certo? Mas cientistas descobriram nos últimos anos que uma reversão no campo magnético da terra há 42 mil anos provocou uma crise ambiental digna de "um filme de desastre".
Um estudo publicado em 2021 na revista "Science" mostra que essa reversão trouxe uma mudança climática em escala global que causou extinções e remodelou o comportamento humano.
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No estudo, os especialistas suspeitaram que durante o período de aproximadamente mil anos, no qual o campo magnético da Terra estava revertendo e, portanto, ficou mais fraco que o normal, a exposição à radiação cósmica solar e cósmica afetou a atmosfera o suficiente para impactar totalmente o clima.
O campo magnético nos protege
O campo magnético da terra é dinâmico e já mudou várias vezes - ou seja, polos Norte e Sul trocaram de lugar. A barreira magnética que envolve o planeta, chamada de magnetosfera terrestre, origina-se da agitação de metal quente e derretido em torno do núcleo do ferro. Esse movimento constante de líquido gera eletricidade, que produz as linhas de campo magnético que se curvam em torno do planeta, segundo a Nasa.
Esse campo funciona como uma bolha protetora, defendendo a Terra da radiação solar. O lado do planeta que está voltado para o sol é bombardeado constantemente por ventos solares que esmagam o campo magnético, mas no lado contrário o Sol forma uma cauda magnética tão longa que vai além da lua.
Os polos norte e sul magnéticos marcam os pontos onde as linhas desse campo protetor convergem. E embora essas posições sejam relativamente estáveis, os polos (e o próprio campo magnético) não estão fixos. A cada 200 mil ou 300 mil anos, o campo enfraquece o suficiente para inverter completamente a polaridade - o que pode levar centenas ou milhares de anos, segundo a Nasa.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores voltaram sua atenção para as árvores Kauri preservadas em pântanos do norte da Nova Zelândia. Foram cortadas seções transversais para a observação das mudanças nos níveis de carbono 14, o que revelou níveis elevados desse carbono quando o campo magnético estava enfraquecendo.
"Assim que descobrimos o momento exato do registro kauri, pudemos ver que coincidia perfeitamente com os registros de mudanças climáticas e biológicas em todo o mundo", disse Alan Cooper, professor emérito do Departamento de Geologia da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, à "Science", na época da publicação do estudo.
Após essa descoberta, os autores usaram modelos de computador para testar o que pode ter causado uma mudança climática generalizada.
A partir disso os pesquisadores descobriram que um campo magnético fraco, operando em cerca de 6% de sua força normal, poderia levar a grandes impactos climáticos "através da radiação ionizante, danificando fortemente a camada de ozônio, permitindo a entrada de UV (raios ultravioletas) e alterando as formas como o sol a energia foi absorvida pela atmosfera", explicou Cooper.
Uma atmosfera fortemente ionizada também poderia ter gerado auroras brilhantes em todo o mundo e produzido tempestades com raios frequentes, fazendo com que o céu parecesse "algo semelhante a um filme de desastre", disse Cooper.
Segundo o estudo, o nível elevado de UV pode ter levado os humanos a buscar abrigo em cavernas e ainda ter forçado as pessoas a protegerem sua pele com "minerais bloqueadores do sol".
Quando vai acontecer novamente?
Os cientistas disseram não poder prever com precisão quando ocorrerá a próxima reversão de nosso campo magnético. Contudo, alguns sinais como a migração do polo Norte através do Mar de Bering, além do próprio campo magnético ter enfraquecido quase 10% nos últimos 170 anos, sugerem que a virada pode estar mais perto do que pensamos.
"No geral, essas descobertas levantam questões importantes sobre os impactos evolutivos das reversões e excursões geomagnéticas ao longo do registro geológico mais profundo", escreveram os cientistas, à época.
Esse estudo foi importante porque, pela primeira vez, os cientistas conseguiram encontrar evidências de que uma inversão polar pode ter sérias repercussões ecológicas.
*Com reportagem de fevereiro de 2021