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Guarda na geladeira? Como desgruda? Os mitos e verdades da supercola

Imagem: iStock

De Tilt

29/11/2024 12h00

Todo mundo tem uma história com supercola instantânea — seja porque ela salvou o dia ou porque simplesmente colou tudo mesmo (até o que não devia). Um salto de sapato quebrado, um vaso que rachou, um brinquedo amado que ficou destruído... os dedos.

É na hora desespero de querer arrumar algo que esse sentimento de urgência também faz com que o seu uso cause alguns acidentes. Mas ela é capaz de colar tudo como muita gente acredita? Existe algum segredo para fazer a supercola durar? Podemos usar em unhas e cílios?

Para tirar essas dúvidas, Tilt organizou uma lista com mitos e verdade sobre o produto e sua substância química ativa.

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O que é a supercola?

Para começo de conversa, colas na linha Super Bonder (uma das marcas mais conhecidas no mundo) nada mais são do que um adesivo líquido à base de cianoacrilato (seu nome técnico). Em outros termos, trata-se de uma cola instantânea de alta resistência e secagem rápida.

A fórmula atual é resistente a ambientes com umidade, além de suportar altos impactos e temperaturas que vão de -50°C até 120°C.

Quais materiais ela pode ser usada?

As supercolas vão bem em superfícies como pedra, metal, madeira, couro, cerâmica, papel e na maioria dos plásticos como acrílico (PMMA), policarbonato (PC), poliestireno (PS) e policloreto de vinila (PVC).

Mas note: esse tipo de adesivo líquido não é indicado para colar polietileno (PE), polipropileno (PP), silicone, resina antiaderente (PTFE), isopor e tecidos.

Preciso armazenar a cola sempre na geladeira?

Mito. É verdade que, de um modo geral, temperaturas baixas auxiliam na conservação dos mais diversos produtos. Sobre as supercolas, são dois os fatores combinados que determinam a sua durabilidade: o armazenamento adequado e em temperatura ambiente ou refrigerada.

Ou seja, mesmo no armário ou na geladeira, é preciso que a cola esteja guardada nas condições ideais: bem fechada, de pé (para evitar vazamentos), longe de alimentos e em local seco.

O produto reage com a umidade, é quimicamente reativo. A partir do momento que entra em contato com o ambiente, começa o processo de cura, que nós chamamos de polimerização. Limpe bem o bico para encaixar direito a tampa e evitar excessos no aplicador. Às vezes, é o excesso que não deixa a tampa vedar que abre caminho para a umidade e polimeriza.

Esse tipo de cuidado com o aplicador ajuda a reduzir a popular queixa de "Ops! Colou a tampa!". Uma vez que a reação química começa, ela vai até o final, endurecendo todo o frasco.

Se optar por guardar em geladeira, é bom manter longe de alimentos, segregar ou identificar para não haver confusão com medicamentos (como colírio), além de cuidar para que fique longe do alcance das crianças.

Posso fazer uso estético em dentes, unhas e cílios?

Mito. As supercolas não devem ser aplicadas em tecidos vivos ou qualquer parte do corpo humano. E isso vale para tudo, incluindo dentes, cílios, unhas e orelhas. O YouTube e as redes sociais estão lotados de "dicas" sugerindo o uso da substância em tecidos humanos, mas o produto não é recomendado.

Embora haja relatos de que o cianoacrilato tenha sido usado para estancar ferimentos de guerra ou mesmo em emergências hospitalares, vale notar que na cola cirúrgica que foi desenvolvida para a pele humana são adicionadas substâncias extras para deixar o produto maleável e asséptico.

Portanto, evite usar a supercola no esmalte, colar cílios postiços (que usam também uma cola a base de cianoacrilato, mas similar a que cirurgiões usam no lugar dos pontos para fazer suturas), colar orelhas, apliques no couro cabeludo, pedaços de dentes, entre outros.

Todo produto que é feito para ter contato com o corpo humano passa por homologação específica para esse uso. O produto é de baixa toxicidade, mas não é recomendado para uso na pele. Cada pessoa tem uma sensibilidade. Alguém pode aplicar na unha e não ter problemas, mas outro pode ter uma alergia.

A cola pode "colar" dentro da embalagem?

Verdade. Com a tampa aberta ou mal vedada, o produto "cura" (como explicado acima) quando em contato com umidade relativa do ar. Quando esse processo se inicia, não para, fazendo o produto secar inteiro no interior da embalagem.

A forma de evitar esse tipo de ocorrência é sempre manter a tampa bem fechada, limpar o excesso do bico após usar e manter o produto em local seco, arejado, sem calor e umidade.

A cola serve para recuperar plantas quebradas?

Mito. Não, não use em tecidos vivos. Por mais que a cola instantânea possa segurar troncos e caules de plantas, esse tipo de produto possui componentes químicos que não foram desenvolvidos para isso e podem obstruir o fluxo da seiva, que leva a água e os nutrientes.

Dá para usar supercola instantânea no tênis?

Verdade. Dá sim, mas não é qualquer cola. Existem supercolas instantâneas específicas para reparos em objetos flexíveis, como a sola de um tênis que fica em constante movimento ou a alça de uma mochila. Elas possuem maior resistência à flexão e impactos quando secam.

Além da flexibilidade, o gel não pinga e permite um tempo maior (ainda na escala dos segundos) para fazer ajustes. É ideal para quem não tem tanta habilidade na aplicação da cola.

Dá para puxar um trem com Super Bonder?

Verdade. Até dá. Uma façanha aconteceu nos Estados Unidos e entrou para o Guinness em 2011. Uma caminhonete e um carro, que somados pesavam oito toneladas, foram içados depois que foram aplicadas nove gotas de Super Glue (como é chamada Super Bonder por lá) no suporte para prender os veículos na grua.

Em outra ocasião, foi feito um teste com uma locomotiva de 208 toneladas com adesivo industrial híbrido Loctite HY4070, que tem tecnologia semelhante a da supercola (mas não é 100% cianoacrilato).

A combinação química usada representou um avanço na adesão estrutural e foi formulada para atender às crescentes demandas em projetos de montagem e reparos. São capazes de puxar um trem de carga com 3 gramas de produto, deixando curar por uma hora.

Existe um "Descola Tudo" para emergências?

Verdade. É possível salvar roupas que tiveram contato com a supercola ou remover excesso e respingos se necessário.

Excessos de cola e também na 'colagem de dedos', é possível trabalhar com água morna e/ou removedor de esmaltes à base de acetona que se encontra facilmente na farmácia, fazendo movimentos leves (no contato com a pele), no caso de uma emergência.

Produtos solventes em gel, à base de carbonato de propileno, também podem ser usados no processo.

Contudo, se a supercola cair em uma superfície, é preciso avaliar. Em caso de tecidos muito delicados, solventes à base de acetona podem prejudicar mais a situação. Correr para lavar com água corrente ou fria pode acelerar a polimerização. Portanto, se você não quer perder sua blusa, seja cauteloso e avalie a superfície antes de tomar uma decisão.

O processo é simples: onde foi aplicado o removedor (também em poucas gotas), deixe agir por alguns minutos e, de forma mecânica, os componentes da supercola serão separados.

Quanto mais gotas colocar, maior será a fixação?

Mito. Bastam poucas gotas. Variando, claro, a quantidade de cola de acordo com o material e a extensão de cada superfície. Isso explica o tamanho dos frascos, que são sempre bem pequenos.

Como a umidade do ambiente tem relação direta com o tempo de secagem, a aplicação de muito produto demora mais para secar e dificulta o posicionamento e a colagem. Além disso, a sobra pode escorrer pelas laterais do objeto deixando a peça com um acabamento esteticamente ruim.

Não é recomendado, também, usar químicos caseiros (aqueles que você encontra na dispensa) para criar ligas. O produto está pronto para uso. Não faz sentido agregar coisas, o que vai acontecer é uma reação química que você não tem como prever e pode prejudicar a fixação. Isso pode piorar a performance, aumentar o tempo de secagem e reduzir a resistência dessa cola no futuro.

Fonte: química Luci Silva, gerente de desenvolvimento de produtos da Henkel, que produz o Super Bonder.

*Com reportagem de setembro de 2021

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