Não precisa ser engenheira para programar, diz chefona da Apple no Brasil
Lisa Jackson, vice-presidente de meio ambiente, política e iniciativas sociais da Apple desembarcou no Brasil para acompanhar a cerimônia de formatura de estudantes brasileiros da Apple Academy, programa de treinamento gratuito feito em parceria com 10 universidades do país.
Durante o evento, realizado ontem (4) no Instituto de Pesquisas Eldorado de Campinas (SP), a executiva reforçou que a educação é um grande fator de combate às desigualdades, sendo um importante caminho para a equidade racial e de gênero.
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"[Vi isso] Na minha própria vida. Fui a primeira da minha família imediata a ir para a faculdade. E isso mudou a direção da minha vida. Depois fui para a pós-graduação. Agora os meus filhos sabem que irão para a universidade. Essa é a minha história pessoal", contou Jackson, em entrevista exclusiva ao UOL.
"Se eu tiver a mesma educação que você ou se estivermos na mesma área, podemos nos comunicar de igual para igual", acrescentou.
Antes de entrar na Apple em 2013, a executiva, que responde diretamente ao CEO Tim Cook, trabalhou três anos como administradora da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, cargo nomeado pelo então presidente Barack Obama.
"Mulheres, façam"
Durante a cerimônia de formatura, a vice-presidente celebrou o aumento no número de mulheres que participaram dos dois anos de treinamento do programa da Apple neste ano. Elas integram 40% dos 230 formandos.
"[Mulheres] Façam isso. Meu conselho é mergulhar [na área] e descobrir como aprender. Você não precisa ser engenheira de software para pegar um dos nossos dispositivos e transformá-lo numa ferramenta para o que você deseja fazer, seja na arte, música, ciência ou tecnologia", ressaltou.
Jackson se referiu nesse momento à linguagem de programação chamada Swift, que a pessoa pode aprender sozinha e começar a desenvolver aplicativos para os produtos da companhia (como iPhone e relógios inteligentes) sem que seja preciso ter uma formação anterior muito técnica.
"Outra coisa que eu diria às mulheres é que precisamos de mais delas na área. Então estamos muito orgulhosos do número crescente de mulheres na turma de formandos", disse.
Pertencimento e amor em tempos de app
A formanda Júlia Bettuz, 28, é um exemplo de profissional que mergulhou na área da tecnologia nos últimos anos. Depois de seguir pelos caminhos da comunicação e do cinema, ela diz ter se reencontrado profissionalmente agora.
"Me afastei da tecnologia por ver que só tinha homem. Olhava os lugares e pensava: 'não devo pertencer a isso'. Mas a Apple Academy me fez perceber que eu pertenço sim, ela tem diversidade de gênero e de outros aspectos. É muito legal aprender com todo mundo", afirmou. Ela faz parte da turma da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).
"Além das mulheres, a Academy também acolhe a comunidade LGBTQIA+. Eu me assumi para a minha família quando já estava no treinamento e fui bem acolhida aqui", comentou a designer Isabela Sayuri Caserta, 27, que namora Júlia há um ano. As duas se conheceram dentro do projeto.
"No mercado de trabalho é muito difícil você conseguir colocar a sua voz, ser ouvida. No ambiente da Academy é diferente", completou Isabela. Segundo a formanda, parte dos treinamentos oferecidos envolve soft skills (habilidades comportamentais). E isso a deixou mais confiante para se posicionar como uma profissional dentro da tecnologia.
Reabilitação de pacientes após AVC
Júlia e Isabela criaram com mais quatro colegas o aplicativo Redancer bundle, um dos destaques da cerimônia de formatura.
Nele, fisioterapeutas adaptam movimentos de dança para ajudar pacientes na reabilitação após AVC (Acidente Vascular Cerebral). Os profissionais traçam o perfil do exercício no app e quem precisa consegue acessá-los pelo celular.
A aplicação surgiu a partir do trabalho de Joseana Wendling Withers, fisioterapeuta e doutoranda em Tecnologia em Saúde pela PUC-PR. Os estudantes conversaram com ela e outros profissionais da área para identificar como a tecnologia poderia ajudar, explicou Julia Elice Jurczyszyn, 24, formada em design gráfico.
A jovem acrescenta que o orientador e professor Fábio Vinícius Binder teve papel fundamental no desenvolvimento projeto.
Outras iniciativas brasileiras
Pouco antes do início da cerimônia de formatura, Lisa Jackson conheceu as instalações da Apple Academy em Campinas e acompanhou a apresentação de projetos de três equipes de brasileiros. Ela conheceu os seguintes sistemas:
- GardaDin, uma aplicação de controle de transações financeiras.
- Guardiões dos Rios, um jogo educativo. Ao longo de desafios, crianças de 6 a 9 anos aprendem sobre a importância da preservação ambiental -- a executiva da Apple se divertiu ao participar dos desafios.
- Pashion, aplicação voltada para estilistas e criadores do universo da moda.
Na sequência, a vice-presidente seguiu para o auditório, espaço em que outros grupos de brasileiros apresentaram suas inovações. Neste ano, se formaram estudantes das instituições de ensino:
- Eldorado (Campinas).
- Universidade Mackenzie (São Paulo).
- PUC-RS (Porto Alegre).
- PUC-PR (Curitiba).
Os projetos apresentados foram:
- SafeHolders, com um sistema com inteligência artificial de monitoramento o uso correto de EPIs (Equipamento de Proteção Individual)
- Self, aplicativo criado para ser um lugar seguro para usuários expressarem suas emoções.
- App Cadê Cadê, um caça objetivos para jogar com amigos e familiares. O sistema exibe objetos e as pessoas devem procurá-los no ambiente que estão. Vence quem encontrar o maior número de itens.
- Murall, aplicativo para gerar templates e artes customizadas.
- Redancer bundle.
Em 2023, o programa de treinamento da Apple para universitários completou 10 anos de existência no Brasil. O país foi o primeiro lugar no mundo a receber esse projeto.
"Começamos aqui porque aqui está a criatividade, aqui está o brilho. Tudo isso reflete em encontrar tantas pessoas inovadoras e, consequentemente, grandes ideias", disse Jackson. "É uma celebração do trabalho árduo e para o início do próximo capítulo."
Na Apple Academy os participantes aprendem programação (linguagem Swift), estratégias de negócio, de marketing e empreendedorismo. Cada unidade possui o seu processo seletivo, e não é preciso necessariamente ser da área de tecnologia da informação.
*Colaborou Marcella Duarte.