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Imagina só: como seria se São Paulo ficasse totalmente livre da poluição?

Ah, que sonho... Imagem: Estúdio Rebimboca

De Tilt

08/12/2024 05h30

Como seria se a cidade de São Paulo fosse radicalmente diferente e não tivéssemos qualquer tipo de poluição? Provavelmente a qualidade de vida seria melhor, mas quanto melhor?

Ainda que ela fique mais visível em dias de inverno, a poluição na capital paulista é algo que impacta todos os habitantes diariamente. Estima-se que respirar seu ar seja o equivalente a fumar sete cigarros por dia.

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O ar poluído, entretanto, é apenas um dos tipos de poluição presentes em uma grande metrópole. Ela também precisa lidar com a contaminação de mananciais, do solo e até do seu espectro eletromagnético. Descartando a poluição eletromagnética, todas as outras causam danos perceptíveis à saúde e qualidade de vida das pessoas.

Reverter isso, claro, traria benefícios em termos de saúde e qualidade de vida e a questão, se levada a um contexto mais amplo, também traria ganhos ambientais para o planeta como um todo.

No ar

Segundo dados do IQAir, uma empresa suíça especializada em monitoramento da qualidade do ar, a poluição atmosférica foi responsável por 15 mil mortes em São Paulo no ano de 2020. Isso ocorre de diversas formas, como doenças cardíacas, respiratórias, renais e até cognitivas. Além disso, a emissão de poluentes contribui com as mudanças climáticas.

O ar poluído é uma "dobradinha" do ozônio troposférico com as PM2,5, partículas inaláveis com diâmetro inferior a 2,5 micrômetros (aproximadamente um quarto da espessura de um fio de cabelo). Nas grandes cidades, são emitidas principalmente pela queima de combustível nos carros. Mas existem outras fontes, como o sal carregado pela água do mar evaporada, queimadas e até interações químicas de gases no ar. As PM2,5 também conseguem "driblar" nossas defesas nasais.

O ozônio troposférico, por sua vez, não tem um emissor específico. Ele se forma devido à interação entre outros gases: os óxidos de nitrogênio (conhecidos por NOx, resultantes da combinação de monóxido de nitrogênio e dióxido de nitrogênio), os compostos orgânicos voláteis (COVs) e a luz do Sol.

O NOx vem principalmente da queima de combustíveis e dos carros da cidade. Os COVs já têm uma gama enorme de fontes, como a deterioração de materiais orgânicos. Em São Paulo, exemplos de emissores são os rios Pinheiros e Tietê, além da própria vegetação.

Por ser um forte oxidante, o ozônio troposférico pode causar irritação nas vias aéreas, pele e mucosas, podendo resultar em doenças por exposição prolongada.

É preciso salientar, no entanto, que zerar a presença de "poluentes" na atmosfera teria um efeito colateral. O ozônio troposférico é fundamental para evitar a proliferação de vírus e bactérias. A presença de poeiras e outros materiais suspensos nos ajudou a desenvolver as defesas do nosso corpo, em especial o sistema de filtros compostos por pelos nasais, muco e estruturas pulmonares. Seria preciso um equilíbrio nos índices desse elemento para não perdemos esse sistema de defesa por completo.

Na água

Já a poluição das águas aumenta ainda mais a vulnerabilidade hídrica da cidade, que precisa se abastecer em pontos distantes, como o Sistema Cantareira. Além dos riscos à saúde geral e do impacto econômico, mananciais poluídos significam menos áreas de lazer e de prática de esportes para a população.

Reverter essa situação não apenas faria a cidade ter uma grande fonte de recursos hídricos e econômicos, mas representaria um ganho de qualidade de vida (já imaginou poder nadar com peixinhos no rio Tietê?). Claro que deixar a água excessivamente pura (sem a presença de matéria orgânica, por exemplo) causaria efeitos nocivos a qualquer ser vivo que viesse a povoar os rios.

Os maus-tratos aos corpos d'água na cidade são históricos e se devem a diversos fatores, como o despejo descontrolado de esgoto, tanto residencial quanto industrial, e alterações nos mananciais. O rio Pinheiros, por exemplo, virou uma reta e teve seu curso invertido para estabelecer um reservatório para uma hidrelétrica da Light, então companhia de fornecimento de energia de São Paulo. Em combinação, isso fez com que os poluentes se concentrassem ainda mais nos rios.

Na terra

No caso do solo, São Paulo tem diversos locais classificados como área contaminada, segundo a Cetesb (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo). A contaminação vem principalmente do descarte de resíduos e da contaminação em decorrência de atividades industriais. Além dos solos, esse tipo de poluição pode comprometer as águas subterrâneas. Novamente, eliminar essa sujeira elevaria a qualidade do nosso solo e teríamos um ecossistema mais natural e diverso na capital.

No som

Por fim, temos a poluição sonora. Não é possível ter uma metrópole silenciosa, mas daria para diminuir o nosso tempo de exposição a ruídos. Excesso de barulho pode causar problemas de sono, sociais, psíquicos, sociais e até cardiovasculares, além de interferir no comportamento e na produtividade das pessoas.

No som e nas ondas do rádio

Fazer uma ligação de celular há alguns anos na região da avenida Paulista não era tarefa fácil, o que demonstra outro problema vivenciado nas grandes cidades: a poluição eletromagnética. Ela se deve à ocupação crescente do espectro eletromagnético, cada vez mais adensado em decorrência de diversas atividades que usam esse tipo de recurso, como a telefonia móvel —um problema visto como irreversível.

Além dela, existe a poluição sonora, que tem causas variadas, desde o barulho dos carros até cidadãos ouvindo som alto em casa, estabelecimentos como bares com som ao vivo e por aí vai.

Próximo de grandes avenidas da cidade, o ruído fica próximo dos 90 decibéis, muito acima do que a OMS (Organização Mundial da Saúde) classifica como confortável e recomendado à audição: 50 decibéis. Teríamos, portanto, uma cidade muito mais tranquila e silenciosa se ela fosse eliminada ou drasticamente reduzida.

Fontes: Ana Luiza Fontenelle, meteorologista pela Universidade de São Paulo (USP), mestra e doutoranda em Planejamento de Sistemas Energéticos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Leonardo Yoshiaki Kamiagauti, geofísico e doutor em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP); Andréa Teixeira Ustra, física e especialista em Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com mestrado e doutorado em geofísica pela Universidade de São Paulo (USP); Eduardo Pouzada, professor e engenheiro eletrônico.

*Com matéria de abril de 2021

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