Jurassic Park vem aí? Empresa quer reviver extintos, mas ideia é criticada
Já imaginou ver de perto animais já extintos? É o que cientistas estão tentando fazer. Neste ano, um grupo de pesquisadores conseguiu refazer o cromossomo de um mamute que viveu há 52 mil anos. O estudo com o feito foi publicado no período Cell.
Uma empresa de biotecnologia norte-americana embarcou na ideia e prometeu que, até 2028, vai trazer o mamute-lanoso (alvo do estudo) de volta. A Colossal Biosciences informou que vai utilizar diversas ferramentas tecnológicas para concluir a "desextinção" do animal, incluindo inteligência artificial e clonagem. Há outras espécies na mira dos cientistas.
O que é 'desextinção'?
É o nome dado para uma suposta tentativa de trazer à vida uma espécie extinta. Vanessa K. Verdade, bióloga, professora associada na Universidade Federal do ABC e doutora em zoologia, explica que seria como recuperar o DNA de um representante da espécie extinta (por exemplo, o filhote de tigre-dente-de-sabre recentemente encontrado congelado), cloná-lo e conseguir implementá-lo em um óvulo de uma fêmea da espécie mais aparentada ainda viva. Esse ovo seria implantado no útero dessa fêmea até o nascimento de um tigre-dente-de-sabre.
Tecnologia já existe, na teoria. Verdade conta que as fases de extração, clonagem, substituição e implantação desse ovo no útero da fêmea da espécie vivente são tecnologias que já existem.
Na prática, a situação é muito mais complexa. "Depende de várias questões, como a qualidade do DNA retirado do espécime extinto e da proximidade da espécie vivente que receberia a célula ovo resultante desse processo de engenharia genética", explica a professora.
Taxa de sucesso ainda é baixa. Isso levando em consideração as técnicas mais conhecidas e usuais, como fertilização in vitro. "Imagine esse processo todo lidando com DNA preservado por milhares de anos. Mas estamos avançando muito e podemos ver acontecer, de fato, no futuro", diz.
Que paleontólogo não gostaria de visitar o Jurassic Park e ver, ao vivo, os animais que estuda através dos fósseis? Enxergar respostas a hipóteses sobre aparência, movimentação, dieta, história natural? Seria incrível. Mas deixo a pergunta: isso seria trazer uma espécie extinta à vida? Vanessa K. Verdade, bióloga
'Desnecessário e incômodo para os bichos'
Projeto sem lógica e com vários danos ambientais. Biólogo e professor Kayron Passos diz que a ideia da empresa não tem lógica. Para ele, a tal "desextinção" só traria benefícios econômicos e financeiros para a instituição. "Pensando ecologicamente, isso apresentaria vários danos ambientais e ainda não iria garantir que a espécie se mantivesse viva", diz.
A ideia de clonar um zigoto e inserir em um útero interespecífico, que é de espécie diferente, mas próxima, seria mais útil para tentar retardar a extinção das espécies que precisam de nós agora, como ararinha-azul, lobo-guará. Kayron Passos, biólogo
Investimento poderia ser usado para outros fins. "Não seria melhor usar esse investimento protegendo e mantendo as espécies que ainda estão por aqui, saudáveis?", questiona Verdade. Para ela, seria mais interessante investir em entender e manter a saúde ambiental e as populações existentes hoje, e assim evitar mais perdas.
Outro ponto levantado pela bióloga é o sobre o conceito de "desextinção". Conseguir trazer de volta um mamute ou o tigre-dente-de-sabre pode ser de fato interessante, diz Verdade, mas não equivale a "desextinguir" a espécie.
Para que uma espécie se mantenha, é preciso que haja um conjunto de indivíduos acasalando e deixando filhotes de geração em geração. Qual o tamanho do investimento e de quantos tigrinhos precisaríamos conseguir nesse processo para que de fato houvesse uma população mínima viável? Vanessa K. Verdade, bióloga
Espécies enfrentariam riscos em um possível retorno. Verdade lembra que os ambientes estão ocupados pelos indivíduos das espécies que vivem hoje. "O que acontecerá com eles se nesse ambiente trouxermos uma espécie do passado? Será que o prejuízo não será ainda maior?", questiona a professora.
Passos traz como o exemplo a questão da temperatura cada vez mais elevada. "O clima está quente para os bichos de agora, imagine para o mamute, que era todo peludo, com muito mais camadas de gordura? Seria um incomodo desnecessário para o animal."
É desafiador e fácil compreender a motivação mais imediata, mas esse 'brincar de criador' pode trazer consequências negativas aos organismos viventes, já tão ameaçados pelo nosso modo de vida atual. Vanessa K. Verdade, bióloga