Missão de 8 dias vai durar 9 meses: o que muda nos corpos dos astronautas?
Os astronautas presos na ISS (Estação Espacial Internacional) só poderão retornar à Terra em março, quando completarão nove meses no espaço. O que acontece com os corpos de astronautas após tanto tempo no espaço?
Meses no espaço
O retorno dos astronautas Suni Williams e Butch Wilmore à Terra foi novamente adiado pela Nasa. Inicialmente planejada para durar apenas oito dias, a missão da dupla na ISS já soma mais de seis meses e agora pode se estender até março de 2025. A decisão foi motivada por problemas técnicos na cápsula Starliner, da Boeing, considerada inadequada para trazer os astronautas de volta.
O espaço impõe desafios severos à saúde dos astronautas devido à microgravidade e à radiação. Estudos da Nasa feitos antes do problema com a missão de Williams e Wilmore revelam que a radiação espacial é uma das maiores preocupações, com impactos significativos no DNA humano. Susan Bailey, pesquisadora da Universidade Estadual do Colorado e líder do estudo Twins, apontou que "a exposição à radiação é realmente muito prejudicial ao nosso DNA", sendo associada ao aumento de riscos de câncer, envelhecimento acelerado e estresse oxidativo.
Astronautas podem perder até 1,5% da densidade óssea por mês no espaço e ter visão afetada. Com a ausência de gravidade, mudanças na redistribuição de fluidos corporais podem causar uma condição chamada Síndrome Neuro-ocular Associada ao Voo Espacial, afetando a visão permanentemente.
A ausência de gravidade pode causar redistribuição dos fluidos corporais, afetando o fluxo sanguíneo e aumentando a pressão intracraniana. Estudos indicam que a microgravidade pode enfraquecer o tecido cardíaco humano, comprometendo a função cardiovascular.
Impactos psicológicos também preocupam a equipe da Nasa em terra. O confinamento, o isolamento e a distância da Terra podem levar a estresse, afetando o bem-estar mental dos astronautas.
Thomas Reiter, astronauta alemão aposentado, destacou os desafios enfrentados em missões prolongadas. "Quando eles voltarem, não poderão ir para a pista de dança, como qualquer outra pessoa", afirmou, ressaltando os efeitos da microgravidade no sistema musculoesquelético.
A ISS garante suprimentos básicos e suporte psicológico para mitigar os efeitos do isolamento. Reabastecimentos regulares fornecem alimentos, água e oxigênio, enquanto a rotina científica dos astronautas ajuda a manter o bem-estar mental. Wilmore e Williams, por exemplo, se integram ao trabalho contínuo de pesquisa da estação.
Relembre o caso
Williams e Wilmore viajaram à ISS em junho como parte de um voo de teste da cápsula. A missão deveria ser curta, mas, devido a uma série de falhas, a Nasa ainda não definiu com precisão como e quando ocorrerá o retorno dos astronautas.
As falhas incluíram mau funcionamento da cápsula Starliner da Boeing, como vazamentos de hélio e falhas nos propulsores. Durante a aproximação com a ISS em junho de 2024, cinco dos 28 propulsores de manobra falharam, comprometendo a capacidade de manobra da espaçonave. Além disso, foram detectados vazamentos de hélio no módulo de serviço, utilizado para pressurizar os propulsores.
Devido a esses problemas técnicos, a Nasa considerou arriscado utilizar a Starliner para o retorno dos astronautas. Consequentemente, a cápsula desacoplou-se da ISS e retornou à Terra sem a tripulação em setembro de 2024. Os astronautas permaneceram na ISS e seu retorno está planejado para ocorrer a bordo de uma cápsula Crew Dragon da SpaceX.
Ao retornarem, os astronautas serão submetidos a um monitoramento médico rigoroso. Assim como os participantes do estudo Twins, eles serão avaliados para identificar danos genéticos, desmineralização óssea e outros efeitos a longo prazo, permitindo o desenvolvimento de contramedidas para futuras missões de longa duração, como expedições à Lua ou a Marte.
*Com informações de matéria publicada em 21 de agosto.
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