'Se colocar no lugar do outro' gera mais polarização, diz neurocientista

(Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre tecnologia no podcast Deu Tilt. O programa vai ao ar às terças-feiras no YouTube do UOL, no Spotify, no Deezer e no Apple Podcasts. Nesta semana, o assunto é: 'Detector de injustiças'; Ódio x amor: o que une a internet?; Como dar fim à polarização?)

Você já deve ter ouvido que a solução para conflitos é "se colocar no lugar do outro", mas não é bem assim, diz o cientista Paulo Boggio, professor do Mackenzie e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Neurociência Social e Afetiva. A empatia pode ser mais polarizadora.

Teve um hype de promover a empatia, que é um mecanismo excelente para promover cooperação, mas ela também promove competição entre grupos
Paulo Boggio

Segundo o neurocientista, um dos mais respeitados no país, esse movimento leva ao que filósofos alemães chamam de "Schadenfreude", que não tem tradução para o português, mas significa algo como "prazer na dor alheia".

Em entrevista ao Deu Tilt, o podcast do UOL para os humanos por trás das máquinas, Boggio conta que a pessoa que decide se colocar no lugar da outra passa a acreditar que deve pensar igual a ela.

Ao fazer isso, a pessoa empática se depara com ideias e valores com as quais não concorda. Diante disso, aumenta o ressentimento em relação à pessoa com quem ela deveria ter empatia. Por isso, explica o cientista, esse fenômeno pode aumentar a polarização.

Mas nem tudo está perdido.

Uma estratégia para mitigar essa percepção é tentar mostrar que as pessoas não são tão diferentes umas das outras
Paulo Boggio

Paulo Boggio, professor do Mackenzie e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Neurociência Social e Afetiva
Paulo Boggio, professor do Mackenzie e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Neurociência Social e Afetiva Imagem: Reprodução/UOL
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É o que o instituto que ele coordena tentará fazer. A organização está desenvolvendo um estudo global envolvendo 50 países com uma série de ações com o objetivo de aproximar pessoas com visões de mundo distintas.

Uma das intervenções é aproximar as pessoas por meio de suas histórias de vida, sem que façam qualquer ligação com questões que podem levar à polarização.

Outra das estratégias está baseada no conceito de "Véu da ignorância", cunhado pelo filósofo norte-americano John Rawls. Como pessoas tendem a tomar decisões baseadas nos próprios interesses, a proposta de Rawls é fazer as pessoas decidirem na condição hipotética de desconhecerem a própria identidade.

É você se colocar o sujeito numa situação em que ele não faz ideia de quem seja
Paulo Boggio

'Radar de injustiça': cérebro tem mecanismo que salva você de gente egoísta

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Pode não parecer, mas seu cérebro é capaz de identificar injustiças —e rejeitá-las— em um tempo menor do que um piscar de olhos. É o que aponta Paulo Boggio, professor do Mackenzie e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Neurociência Social e Afetiva.

Um dos neurocientistas brasileiros mais respeitados do mundo, Boggio explicou em entrevista ao Deu Tilt, podcast do UOL para humanos por trás das máquinas, que o cérebro leva menos de 100 milissegundos para identificar uma situação que pode ser considerada injusta.

É aquela sensação incômoda que a gente não sabe de onde vem, mas que está detectando alguma coisa
Paulo Boggio

O ódio venceu: por que 'haters' superam fãs na internet?

Se você tinha alguma suspeita, aí vai: o ranço, de fato, une as pessoas. Mas não só isso: esse sentimento de aversão a alguém ou a alguma ideia tem agrupado mais pessoas do que o amor.

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Em entrevista ao Deu Tilt desta semana, o neurocientista Paulo Boggio explica que os seres humanos tradicionalmente se unem em grupos baseados naquilo que defendem. Ultimamente, porém, o ódio vem vencendo e é essa emoção que está unindo as pessoas.

Se olharmos a polarização atual, vamos ver pessoas muito diferentes apoiando o mesmo candidato. Pessoas que, do ponto de vista da pauta positiva, não estariam no mesmo grupo, mas que estão se unindo pelo elemento negativo
Paulo Boggio

DEU TILT

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo.

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