Mudanças em acordos: Como Google quer evitar divisão pela Justiça dos EUA
De Tilt, em São Paulo
31/12/2024 05h30
Para não ser dividido, o Google apresentou uma proposta para o Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA para reduzir o seu domínio. As medidas envolvem flexibilidade em acordos de exclusividade para busca e mais opções para fabricantes de celular.
O que aconteceu
Google foi considerado um monopólio, e Departamento de Justiça sugeriu desmembrar Chrome e Android da companhia. Em decisão de outubro, órgão fez sugestões para reduzir o domínio da empresa.
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Como parte do processo, o Google poderia sugerir "correções" para reduzir seu próprio domínio. Na última sexta-feira (20), a empresa publicou a lista de "remédios":
- Flexibilidade na pré-instalação de aplicativos do Google. Atualmente, fabricantes são obrigadas a instalar a ferramenta de pesquisa do Google, além de Play Store e Chrome. A companhia sugere o fim dessa exclusividade, o que, nas palavras do Google em comunicado, daria uma chance para competidores como a Microsoft.
- Mais opções em contratos de exclusividade em navegadores. Atualmente, o Google gasta bilhões para ser o mecanismo de busca padrão da Apple (no Safari) e da Mozilla (no Firefox). A companhia sugere que navegadores poderão ter múltiplos contratos e ainda poderão trocar o navegador padrão pelo menos a cada um ano.
A proposta é muito mais suave do que a pressão do governo norte-americano. Departamento de Justiça sugeriu, por exemplo, a venda do navegador Chrome, algo que a companhia qualificou como uma tentativa drástica de intervenção no mercado de buscas.
Apesar das sugestões, o Google diz que vai apelar da decisão do Departamento de Justiça. A companhia argumenta que alcançou a liderança ao desenvolver o "melhor mecanismo de busca" e pelos "investimentos inteligentes e decisões de negócio".
Decisão final sobre correções deve ocorrer apenas em agosto de 2025. Enquanto isso, o Google seguirá recorrendo para impedir o desmembramento de suas unidades de negócios.
DoJ versus Google
DoJ processou o Google por considerar que a empresa tinha monopólio de buscas e publicidade digital. O processo começou em 2020 e culminou em agosto, com o juiz Amit Mehta considerando, de fato, a empresa um monopólio, com grande controle nas duas áreas.
Alta quantia paga para manter o Google como buscador padrão foi prova. A companhia pagava bilhões por ano em acordos de exclusividade para ser o buscador padrão em iPhones (líder de mercado nos EUA), celulares da Samsung, além de navegadores (Firefox e Safari, da Apple). Estima-se que foram gastos US$ 26 bilhões desde 2021.
Empresa é acusada de privilegiar produtos próprios em detrimento de concorrentes. O negócio de publicidade também é visto como vetor para queda de jornais nos EUA, já que o jornalismo depende de receitas de anúncios e de alcance para sobreviver.
Solução sugerida pelo DoJ é o desmembramento da empresa. Na prática, isso quer dizer que empresa pode ter que vender se desfazer de parte de seus negócios, como o navegador Chrome ou o Android.
Por outro lado, a IA pode perder força. Analistas ouvidos pela Reuters apontam que, com menos receita, a empresa poderia perder poder para treinar inteligência artificial generativa, favorecendo o ChatGPT, da OpenAI, e o Claude, da francesa Anthropic.
Escrutínio do DoJ é sem precedentes. A investigação do Google visa reduzir o poder de big techs e pode respingar em Meta, Amazon e Apple.
*Com informações da Reuters