Agências avaliam como preocupante fim de sistema de checagem da Meta
Organizações de checagem de fatos veem com preocupação a decisão de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, de substituir o conteúdo verificado por organizações independentes por notas de comunidade, a exemplo do X.
O que aconteceu
Zuckerberg anunciou que vai encerrar o programa de verificação de fatos nos EUA. Em parceria com agências de checagem, o conteúdo desinformativo na rede social é sinalizado com um rótulo que permite que o usuário continue a visualizar o post, ou seja direcionado a um texto jornalístico que verifica aquela publicação.
As organizações de checagem do programa integram a Rede Internacional de Checadores de Fatos (IFCN — International Fact-Checking Network). As redações precisam obedecer a critérios de transparência e integridade para fazer parte da rede.
O UOL Confere, estação do UOL para checagem e esclarecimento de fatos, faz parte do IFCN e dos programas de checagem da Meta no Brasil.
Zuckerberg atacou jornalistas. Na declaração, o CEO da Meta disse que "checadores de fatos são muito enviesados politicamente".
A diretora do IFCN, Angie Holan, criticou a decisão do bilionário, e defendeu o trabalho dos jornalistas da organização. "Checadores não são enviesados em seu trabalho, esse ataque vem de quem acha que pode exagerar ou mentir sem refutação ou contradição", disse.
Organizações dos EUA foram pegas de surpresa. O Lead Stories, site que integra o programa de verificação de fatos da Meta desde 2019, disse que recebeu com surpresa e decepção o anúncio da rede social (aqui). "Em todos os anos em que fizemos parte da parceria, nós ou o IFCN nunca recebemos nenhuma reclamação da Meta sobre qualquer viés político, então ficamos bastante surpresos com esta declaração", afirma o site.
Decisão ainda não afeta outros países. O programa de verificação de fatos da Meta existe desde 2016. De acordo com o site da rede social, mais de 80 organizações de checagem de fatos já contribuíram com verificações em mais de 60 idiomas no mundo todo.
No Brasil, as agências especializadas como Lupa e Aos Fatos veem com preocupação a decisão da Meta.
Entendemos que o programa de notas da comunidade como ferramenta de verificação, anunciado pela Meta em substituição ao trabalho dos checadores, já se mostrou ineficaz no X. Ao seguir esse caminho, a empresa torna o ambiente digital menos seguro e confiável para seus usuários. Natália Leal, diretora-executiva da Lupa
O trabalho de checagem de fatos, distante de ser censura, é instrumental para a liberdade de expressão. Apenas com informações factualmente verificadas é possível tomar decisões conscientes sobre temas tão urgentes quanto saúde pública e diversos tipos de violência. Tai Nalon, diretora-executiva do Aos Fatos
Notas da comunidade não substitui jornalismo. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) destaca que as organizações de checagem de fatos não retiram conteúdo do ar das redes sociais, mas apontam erros factuais e informações enganosas.
A ação voluntária de usuários das redes não é capaz de substituir a checagem profissional de fatos, principalmente em um cenário em que a poluição do ambiente informativo provoca danos evidentes à democracia, especialmente com o avanço de ferramentas como a inteligência artificial. Abraji
Rede vai priorizar conteúdo político. A Meta afirma que desde 2021 reduziu publicações que tratassem do tema, baseado no pedido de usuários. Porém, com essas mudanças, a rede diz que terá uma "abordagem mais personalizada", permitindo que quem desejar, terá mais acesso a esses conteúdos em seus feeds.
Acenos a Trump
Zuckerberg fala em se juntar ao governo dos EUA para lutar contra governos ao redor do mundo que atacam empresas do país. O CEO da Meta cita que a Europa tem leis que institucionalizam a censura e que na América Latina há "cortes secretas" que exigem que empresas removam conteúdos.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.