Por que chegada da IA chinesa DeepSeek foi chamada de 'momento Sputnik'?

O lançamento do DeepSeek, robô com inteligência artificial chinês, na segunda-feira (27), encerrou o monopólio americano deste mercado e iniciou uma corrida por avanços que levem à dominação da área que é tida como o futuro da tecnologia.

Marc Andreessen, um dos principais investidores do setor nos EUA, classificou a chegada da nova ferramenta como "momento Sputnik".

O que é o tal "momento Sputnik"?

Sputnik foi o programa que produziu a primeira série de satélites artificiais soviéticos nos anos 1950. Seu lançamento iniciou a corrida espacial entre as duas potências da Guerra Fria: EUA e União Soviética.

Por meio do Sputnik, foram alcançados avanços que permitiram o primeiro voo espacial tripulado. A bordo do Sputnik 5, o último lançado, estiveram as cadelas Belka e Strelka.

A chegada do DeepSeek, de forma similar, institui uma competição entre EUA e China em um novo campo científico. Nvdia, principal fabricante de chips que alimentam modelos de inteligência artificial americanos, perdeu 17% (ou quase US$ 600 bilhões) em valor de suas ações, a maior queda da história do mercado de ações dos EUA, segundo o britânico The Guardian. A Alphabet, "empresa-mãe" do Google perdeu US$ 100 bilhões (R$ 589 bilhões) e a Microsoft perdeu US$ 7 bilhões (R$ 41 bilhões).

No fim de semana, o DeepSeek já ocupava o topo da App Store (loja de aplicativos) da Apple nos EUA e no Reino Unido, deixando para trás o ChatGPT. O presidente dos EUA, Donald Trump, disse em encontro com deputados republicanos em Miami na segunda que o lançamento chinês é um "alerta para nossas indústrias de que precisamos ser mais focados em competir para vencer", segundo o Mashable.

Guerra tecnológica à vista?

Preocupação de Trump é de que a IA chinesa seja "mais rápida" e "muito mais barata" do que a americana. "Isso é bom porque você não tem de gastar tanto [para investir]. Vejo esta característica [deles] como uma coisa positiva, um recurso." Já Sam Altman, fundador da OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT, postou em suas redes que o DeepSeek "é um modelo impressionante", particularmente pelo que eles entregam diante do preço de investimento.

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O DeepSeek sofreu um ataque cibernético na segunda, que forçou a plataforma a limitar temporariamente o registro de novos usuários. A empresa anunciou que começou a investigar o caso e, após duas horas de monitoramento, pode identificar um "ataque malicioso em grande escala". Ainda não foi divulgada a origem do ataque.

EUA tentaram impedir entrada da China no mercado de IA. Em setembro de 2022, os EUA impuseram sanções que proibiam a Nvdia de exportar seus chips mais avançados utilizados em IA, os H100, ao mercado chinês. A DeepSeek então começou a trabalhar no projeto com modelos de capacidade reduzida, os chips H800. No entanto, em outubro de 2024, eles também foram proibidos de sair dos EUA para a China.

Esforços dos EUA foram inúteis. A DeepSeek alega que sua ferramenta R1 (o nome do serviço da DeepSeek) tem melhor performance do que o modelo o1-mini da OpenAI em diversos parâmetros. O jornal The Guardian ainda apontou que uma pesquisa da Artificial Analysis colocou a qualidade do DeepSeek acima das inteligências artificiais lançadas pelo Google, Meta e Anthropic.

IA chinesa usaria menos chips e seria mais competitiva

Segundo a DeepSeek, foram necessários menos chips para o desenvolvimento de sua inteligência artificial do que nos modelos americanos existentes no mercado, por isso a ferramenta seria mais rápida de fabricar. O anúncio confirmou temores já existentes no mercado financeiro dos EUA — de que o investimento em IA era grande demais para o retorno no momento.

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A DeepSeek anunciou que a ferramenta R1 custou US$ 5,6 milhões à empresa. Em 2024, Dario Amodei, co-fundador da empresa de IA Anthropic, estimou o custo de modelos avançados entre US$ 100 milhões (R$ 589 milhões) e US$ 1 bilhão (R$ 5,9 bilhões), segundo o jornal The Guardian. O banco de investimentos Goldman Sachs, por sua vez, publicou uma nota em junho questionando se um investimento de US$ 1 trilhão (R$ 5,9 trilhões) nos próximos anos terá retorno proporcional.

Intuito é democratizar o acesso à IA

A DeepSeek foi criada em 2023 como um "hobby". Seu fundador é o empresário Liang Wenfeng, do fundo de cobertura de risco High-Flyer Capital. Ele começou a comprar chips da Nvidia em 2021 para desenvolver modelos de IA experimentalmente, na esperança de que poderiam render uma melhor identificação de padrões nos valores de ações no mercado financeiro. A empreitada deu certo.

A empresa é focada, no momento, exclusivamente na pesquisa de IA em vez do lançamento de produtos comerciais. Por isso, o código por trás do R1 foi disponibilizado pela empresa e pode ser baixado de graça. Em entrevista à imprensa chinesa, Liang afirmou que IA "deve ser barata e acessível a todos".

Pesquisadores e setor privado podem se beneficiar. Ao Guardian, Andrew Duncan, diretor de ciência e inovação do Instituto Alan Turing, instituição que é referência no campo de tecnologia no Reino Unido, considerou o lançamento do DeepSeek "muito animador" porque "democratiza o acesso" a modelos avançados de IA. "A academia e o setor privado poderão brincar e explorar [a IA] e usá-la como um ponto de partida. Demonstra que você pode fazer coisas incríveis com modelos e recursos relativamente pequenos. Você pode inovar sem ter imensos recursos, como a OpenAI", comemorou.

3 comentários

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Jose Ricardo Vidal Dias

Todo fim de monopólio é bem vindo. O discursores da livre concorrência esperneiam contra o que defendem. Bem vindos, DEEPSEEK.

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Gabriela Campedelli

A Nvidia é chinesa, o DeepSeek não é. 

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Gabriela Campedelli

Mas o colunista de tecnologia está precisando de muito conhecimento pra gente acreditar nesse lero-lero. 

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