Repelente caseiro: ciência aprova produtos feitos em casa? Depende


De Tilt
01/02/2025 05h30Atualizada em 01/02/2025 10h25
O que não faltam são sugestões de repelentes naturais, seja nas prateleiras das lojas ou como receitas caseiras com citronela, limão com cravo, folha de louro, eucalipto, óleo de neem, andiroba, copaíba e tantos outros. Mas, o que a ciência diz sobre a eficácia de produtos feitos em casa?
Não à toa, as plantas são capazes de produzir substâncias com propriedades repelentes. Afinal, enxotar insetos é fundamental para a adaptação de muitas das espécies ao ambiente em que estão plantadas.
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As plantas não possuem a capacidade de fugir ou lutar contra predadores. Por isso, lançam mão de um grande arsenal de substâncias, produzidas nas células de diferentes partes do organismo. Essa produção de substâncias é chamada de metabolismo secundário e dele fazem parte substâncias como fitoesteróis, flavonoides e taninos, encontrados em alimentícios e cosméticos.
Algumas dessas substâncias são bem conhecidas do brasileiro e já estão presentes em produtos industrializados exatamente pela propriedade repelente, como é o caso da citronela. Fácil de ser plantada, ela é um poderoso repelente natural de insetos como mosquitos, moscas e formigas — também encontrado como óleo essencial.
A ciência vem mostrando que muitas preparações usadas empiricamente têm propriedades benéficas e alguns dos medicamentos que usamos hoje foram descobertos ao serem investigadas plantas e preparações medicinais usadas pela população local.
Conhecimento popular
Muitas dessas misturas naturais têm efeitos repelentes ou inseticidas cientificamente comprovados em várias partes do mundo. Contudo, uma lista definitiva de espécies ainda está longe de ser alcançada.
Mais de 2.000 plantas são conhecidas por terem efeitos tóxicos ou repelentes em mosquitos, mas somente cerca de 5% a 10% delas apresentam estudo químico e biológico detalhado. Isso mostra que o conhecimento popular é uma fonte extremamente rica para a busca de novos inseticidas ou repelentes. Na maioria das vezes, usos populares são comprovados após estudos aprofundados.
Portanto, vale dar um crédito para aquele produto artesanal que promete dar adeus aos insetos ou àquela receita da sua avó. Os repelentes naturais costumam ser bastante acessíveis para grande parte da população e também muito populares. A depender da região, muitas plantas são conhecidas e facilmente cultivadas.
Apesar de naturais, vale o aviso: misturar diferentes óleos ou extratos não necessariamente melhora as propriedades deles. Na verdade, fazer misturas sem uma orientação pode acabar favorecendo a degradação das propriedades por alguma incompatibilidade química. A dica é apostar em um elemento principal e não tentar um coquetel de múltiplos itens.
É seguro apostar nos repelentes naturais?
De modo geral, o uso de repelentes naturais baseados em espécies bem conhecidas é seguro. Contudo, é preciso desfazer a crença de que repelentes oriundos de plantas não podem causar danos à saúde pois são "naturais" e inofensivos às pessoas.
O maior risco são reações de hipersensibilidade [alergias], nos mais variados graus, entre outras reações diversas devido ao contato. Indo desde mal-estar, dor de cabeça, urticária e até reações mais graves.
Para a especialista, em alguns casos, pode-se dizer que os efeitos colaterais de produtos naturais são mais toleráveis, mas não é correto generalizar.
No organismo humano, as substâncias de origem natural percorrem os mesmos caminhos que as sintéticas, o que muda são as concentrações usadas, pois num produto natural há uma atuação simultânea de várias substâncias, e nos produtos industrializados são poucas substâncias com ação muito forte sobre determinado ponto no nosso organismo.
Tudo o que colocamos em contato com o corpo merece atenção com relação à toxicidade. No caso de idosos, grávidas e crianças, o cuidado deve ser redobrado.
Essas preparações naturais possuem uma maneira certa de serem feitas, que são baseadas no conhecimento adquirido geração após geração e que nem tudo que se vê por aí é totalmente verdade.
Sempre devem ser priorizadas informações advindas de fontes confiáveis e sérias sobre o tema.
Fontes: Fernanda Guilhon-Simplicio doutora em ciências farmacêuticas; Helena Russo, pesquisadora de química.
*Com reportagem de abril de 2021