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Primeira rede lunar: Nokia vai instalar 4G na Lua; para quê vai servir?

Concepção artística do módulo da Intuitive Machine e Nokia Bell Labs chegando à Lua - Intuitive Machine Concepção artística do módulo da Intuitive Machine e Nokia Bell Labs chegando à Lua - Intuitive Machine
Concepção artística do módulo da Intuitive Machine e Nokia Bell Labs chegando à Lua Imagem: Intuitive Machine

De Tilt, em São Paulo

23/02/2025 05h30Atualizada em 01/04/2025 08h55

Enquanto aqui no Brasil as teles têm expandido as redes 5G, a Lua deve ganhar ainda neste ano uma rede 4G. Mas por qual motivo nosso satélite vai receber uma rede de tecnologia pior que a que temos? Essas e outras curiosidades são esclarecidas por Claudio Saes, consultor do Nokia Bell Labs, uma das patrocinadoras da instalação.

O que aconteceu

A partir de 26 de fevereiro, abre a janela de lançamento da missão IM-2 que vai levar uma rede 4G para a Lua. A iniciativa é uma parceria da Nokia, sua área de pesquisa Nokia Bell Labs e a Intuitive Machines. Carga será enviada pela SpaceX, a empresa espacial de Elon Musk.

Elementos de rede 4G estarão juntos numa cápsula com dois módulos da Intuitive Machines. Trata-se de um hopper (uma sonda que se locomove "pulando" de um ponto a outro) e um rover. A ideia é que ambas as sondas explorem o solo e crateras lunares, e seja estabelecida a primeira rede lunar.

Por que uma rede 4G na Lua, e não 5G?

As redes 4G são mais estáveis e a conhecemos há pelo menos dez anos. E a tecnologia funciona bem para comunicação de dados e vídeo
Claudio Saes, consultor do Nokia Bell Labs, em conversa com Tilt

Comunicação em missões lunares, visitas humanas e testes. Essas são as principais razões para instalação de uma rede 4G em nosso satélite natural. Saes explica que a rede ajudará na comunicação de equipe na Terra com módulos lunares, além de facilitar o contato de astronautas com nosso planeta, auxiliar numa eventual mineração lunar e no controle de equipamentos que estão na Lua.

Análises prévias mostram que a Lua conta com metais valiosos, que poderiam ajudar na produção de eletrônicos e na construção de reatores de fusão. Como a Lua é vista como uma futura "parada" para missões longas tripuladas, reatores poderiam gerar energia para as futuras empreitadas.

Nasa planeja voltar à Lua com missão tripulada no ano que vem. A missão Artemis 2, prevista para abril de 2026, contará com astronautas num voo na órbita da Lua. Já a missão Artemis 3 envolve levar astronautas a pousarem na Lua em 2027.

Se funcionar a rede 4G na Lua, tecnologia poderia ser usada em ambientes inóspitos na Terra. Saes comenta, por exemplo, que em aplicações de mineração profunda, poderia haver uma rede 4G para ajudar no controle de veículos autônomos durante explorações, reduzindo o risco de humanos estarem nessas situações.

A tentativa de instalar uma rede 4G na Lua pode dar errado? Muito. Saes, do Nokia Bell Labs, diz que raios cósmicos de alta radiação podem atingir o aparelho e influenciarem na transmissão de dados. Tem ainda o fato de o dispositivo poder ser atingido fisicamente por meteoritos. O sistema todo deve ser capaz de se "autoinstalar" e estabelecer comunicação de forma autônoma.

Módulo de pouso Nova-C da missão IM-2; rede 4G ficará instalada nele para haver comunicação com veículos e com a Terra Imagem: Intuitive Machines e Nokia Labs

De concreto, a rede funcionará não mais do que 10 dias. A ideia da rede 4G é possibilitar a comunicação do módulo de pouso com dois veículos (hopper e rover) e retransmitir para a Terra. A energia para o funcionamento da conexão vai ser obtida por painéis solares, e não se espera que opere por muito tempo. O experimento deve permitir a posterior instalação de uma rede que cubra toda a área da Lua.

Envio de rede 4G à Lua marca os 100 anos do Nokia Bell Labs. O laboratório de pesquisa, antes conhecido apenas como Bell Labs, foi primordial no desenvolvimento de tecnologias que usamos em nosso dia a dia: como o sistema operacional baseado em ícones, o transistor (que permitiu a criação de circuitos eletrônicos miniaturizados) e a fibra óptica (usada na transmissão de dados e em banda larga).


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