Faíscas em gotas: a nova hipótese para o surgimento da vida, segundo estudo

Um estudo analisou reações químicas geradas a partir de microgotículas de água e levantou a hipótese de que as descargas elétricas formadas nessas interações geraram as primeiras moléculas orgânicas na Terra.

O que aconteceu

Cientistas analisaram a carga elétrica presente em pequenas gotas de água. Os pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA) descreveram como o processo a partir dessa interação entre microgotículas pode ter dado origem às matérias orgânicas no nosso planeta. Os resultados da pesquisa foram divulgados na revista científica Science Advances na última sexta-feira.

Quando a água neutra é pulverizada, microgotículas de carga oposta são formadas. Segundo o estudo, a aproximação dessas gotículas causa uma descarga elétrica e provoca uma emissão de luz, que acontece sem que nenhuma força elétrica externa seja aplicada, e cuja energia é suficiente para estimular, dissociar ou ionizar moléculas de gás neutro ao seu redor.

Essa reação química foi gerada em laboratório pelos pesquisadores. Para detectar a emissão de fótons —partículas elementares que viajam com a velocidade da luz— da divisão de uma única microgota, foi construída uma câmara acústica preenchida com gases inorgânicos. Dois condutores de energia feitos de cobre foram montados em lados opostos da câmara, onde os cientistas inseriram uma única gota de água, que levitava conforme o estímulo acústico.

Câmera de alta velocidade foi usada para capturar o movimento da gota a 20 mil cliques por segundo. Em um período de medição de 15 segundos, os cientistas conseguiram analisar o comportamento da gota. Ao reduzir a distância entre as estruturas da câmara definidas como transmissor e refletor, a gotícula pode ser "esmagada" e se dividiu em várias gotas menores que "voaram" em várias direções, como em uma explosão. "Esses resultados demonstram diretamente que uma descarga elétrica ocorre durante a divisão de uma única gota de água, levando à geração de fótons", diz o estudo.

Equipe descobriu que gotículas maiores frequentemente carregavam cargas positivas, enquanto as menores eram negativas. Quando as gotículas com cargas opostas se aproximavam umas das outras, faíscas saltavam entre elas. No estudo, os cientistas apelidaram essas faíscas de "microrrelâmpagos".

O início da vida

As reações químicas descritas no estudo teriam sido responsáveis pela produção de compostos orgânicos. Descargas de alta energia, como os raios, ionizam ou dissociam gases inorgânicos como nitrogênio, metano, dióxido de carbono e amônia, presentes na atmosfera primitiva da Terra.

Os cientistas acreditam que a Terra foi formada por um turbilhão de substâncias químicas. No entanto, não havia "quase nenhuma" molécula orgânica com ligações carbono-nitrogênio, conforme reportagem sobre a pesquisa publicada no portal Stanford Report. Essas ligações são essenciais para proteínas, enzimas, ácidos nucleicos, clorofila e outros compostos que compõem os seres vivos hoje.

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Segundo os cientistas, os microrrelâmpagos se encaixam justamente nesta lacuna. As reações elétricas nas gotas de água também levam à formação de radicais e íons que podem provocar a síntese de moléculas orgânicas contendo ligações carbono-nitrogênio, como o cianeto de hidrogênio, o aminoácido glicina e a uracila, um dos componentes do RNA.

O estudo complementa a hipótese Miller-Urey, que argumenta que a vida no planeta começou a partir de um raio. Essa teoria é baseada em um experimento de 1952, que afirma que compostos orgânicos poderiam se formar com a aplicação de eletricidade a uma mistura de água e gases inorgânicos.

A nova pesquisa apresenta um novo ângulo sobre como a energia elétrica necessária para a vida foi gerada. Para os pesquisadores, as descobertas recentes indicam que não foram necessariamente raios, mas pequenas faíscas feitas por ondas quebrando ou cachoeiras que deram início à vida na Terra. Enquanto raios são fenômenos mais raros e dispersos, a energia pode ter sido provocada de maneira mais simples. "Na Terra primitiva, havia jatos de água por todo lugar —em fendas ou contra rochas, e eles podem se acumular e criar essa reação química", explicou Richard Zare, líder do estudo, ao portal da universidade.

3 comentários

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Ricardo Camilo da Silva

NEM LI

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Wilson Fernandes Monteiro

Partindo desse princípio, se o atual estágio da vida aqui na terra chegar ao fim, seja lá por qual motivo for, vai demorar muitos e muitos anos para começar tudo de novo!

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Claudio Shigeharu Kinjo

Micro faíscas em nanos gotículas de água "neutra" num ambiente sem ligações químicas orgânicas... tá certo.... vamo nessa, nesse caminho, à velocidade da luz, dos raios....

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