China aposta em game "Black Myth: Wukong" como difusor de cultura do país

Por Joe Cash

PEQUIM (Reuters) - A mídia estatal chinesa tem apoiado o videogame mais bem-sucedido  já desenvolvido na China até agora, dizendo que a adaptação do épico da dinastia Ming "Jornada para o Oeste" forçará os jogadores ocidentais a aprenderem mais sobre a cultura do país.

"Black Myth: Wukong", baseado em um mítico rei macaco de um clássico literário chinês que pode se transformar em humanos, animais e objetos inanimados, registra nesta quarta-feira 2,2 milhões de jogadores simultâneos na plataforma Steam, um dia após seu lançamento.

"No passado, os jogadores chineses passaram por esse processo de compreensão intercultural, agora é a vez dos jogadores estrangeiros aprenderem... e compreenderem a cultura tradicional chinesa", afirmou a China Central Television.

Baseando-se fortemente na história do macaco mágico Sun Wukong, que adquire poderes sobrenaturais ao praticar o taoismo, "Black Myth: Wukong" só pode ser apreciado se os jogadores estiverem familiarizados com o enredo do clássico do século XVI, disse a emissora nacional.

O jogo para PC e consoles foi lançado na terça-feira pela Game Science, uma startup apoiada pela Tencent, com grande alarde nas mídias sociais chinesas. Hashtags sobre o videogame acumularam 1,7 bilhão de visualizações na plataforma chinesa de microblogs Weibo.

"Esse lançamento marca uma ousada incursão dos desenvolvedores de jogos chineses em um mercado há muito tempo dominado por títulos ocidentais de categoria AAA", escreveu a agência de notícias oficial Xinhua em editorial nesta quarta-feira.

"Com esse avanço, o idioma padrão de um jogo AAA não é mais o inglês, mas o chinês", acrescentou.

"Black Myth: Wukong" fará mais jogadores globais "prestarem atenção aos jogos nacionais", disseram analistas da Topsperity Securities, sediada em Xangai.

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A empresa de transporte por aplicativo Didi, a Lenovo e a Luckin Coffee estão incorporando elementos inspirados em "Black Myth: Wukong" em suas campanhas promocionais.

O game foi amplamente elogiado como o primeiro jogo AAA da China - com altos custos de desenvolvimento, longos ciclos de produção e grandes investimentos - e os analistas do setor consideram que sua fama e popularidade repentinas marcaram um ponto de inflexão no setor na China.

Feng Ji, fundador da Game Science, disse à Xinhua que a atenção global superou suas expectativas iniciais e que sua equipe desenvolverá mais jogos do tipo.

"Vemos sinais de que o governo está reconhecendo o valor potencial do setor para as exportações e a cultura, principalmente a entrevista do fundador da Game Science à Xinhua antes do lançamento do jogo", escreveu o Goldman Sachs em uma nota.

O Goldman acrescentou que espera que mais jogos AAA chineses entrem no mercado global no futuro.

Ao contrário de outros jogos chineses que são jogados em dispositivos móveis e envolvem infinitas microtransações, "Black Myth: Wukong" é uma compra única com um preço de 268 iuans (37,58 dólares) para a versão padrão e 328 iuans para a versão premium.

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"Não está claro se o modelo de negócios de "Black Myth: Wukong" pode gerar mais lucros... o importante... é que a China está finalmente obtendo seu próprio jogo AAA que pode empolgar o mundo", disse o tabloide estatal Global Times.

"Os jogadores globais poderão ter uma compreensão mais profunda da cultura tradicional chinesa enquanto se divertem", publicou o tabloide.

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