Membro da diretoria da Intel renuncia após divergência sobre plano de recuperação
Por Max A. Cherney
SAN FRANCISCO, Estados Unidos (Reuters) - O súbito pedido de demissão de um importante membro do conselho de administração da Intel ocorreu após divergências com o presidente-executivo, Pat Gelsinger, e outros diretores sobre a força de trabalho e a cultura da empresa norte-americana, de acordo com três fontes familiarizadas com o assunto.
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Segundo as fontes, o diretor considerava a força de trabalho inchada, a cultura avessa a riscos e a estratégia de inteligência artificial atrasada
Lip-Bu Tan, um veterano do setor de semicondutores, disse que deixou o conselho devido a uma decisão pessoal de "repriorizar vários compromissos" e que ele continua "apoiando a empresa e seu importante trabalho.
O ex presidente-executivo da empresa de software para chips Cadence Design entrou para a diretoria da Intel há dois anos, como parte de um plano para restaurar o lugar da Intel como a principal fabricante global de chips. O conselho ampliou as responsabilidades de Tan em outubro de 2023, autorizando-o a supervisionar operações de fabricação.
Com o passar do tempo, Tan ficou frustrado com a grande força de trabalho da empresa, sua abordagem à fabricação por contrato e a cultura burocrática e avessa a riscos da Intel, de acordo com as fontes.
Tan sai no momento em que a empresa passa por um dos períodos mais sombrios de sua história de cinco décadas, o que a deixou vulnerável a um possível ataque de acionistas ativistas, disseram ex-executivos. A Intel contratou o banco de investimentos Morgan Stanley para preparar uma defesa, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.
Ex-executivos da Intel disseram à Reuters que a empresa começou a se preparar para uma possível ameaça de acionistas ativistas meses atrás. A Reuters não pôde confirmar de forma independente se algum acionista está preparando uma abordagem.
Este mês, a Intel suspendeu dividendos que vinha pagando há décadas ao divulgar resultados e planos para reduzir investimento na construção de fábricas. No dia seguinte, o valor de mercado da companhia caiu mais de 30 bilhões de dólares, ou seja, mais de um quarto do valor total.
Para cortar custos, a Intel anunciou em agosto a demissão de mais de 15% de sua força de trabalho, sua segunda rodada de cortes em dois anos.
O plano de demissões em massa foi uma das fontes de tensão entre Tan e a diretoria, de acordo com fontes. Tan queria cortes específicos, incluindo gerentes de nível médio que não contribuem para os esforços de engenharia da Intel.
De acordo com duas fontes, as equipes de alguns projetos eram até cinco vezes maiores do que outras que realizam trabalhos semelhantes em rivais como a AMD. Um ex-executivo disse que a Intel deveria ter cortado o dobro do número de funcionários que anunciou em agosto, anos atrás.
O plano de recuperação da Intel se baseia na construção de seu setor de fundição, que ajuda outras empresas a fabricar chips, semelhante à TSMC. Mas a empresa não divulgou um contrato com um cliente de grande porte e disse que não espera que o setor dê lucro até 2027.
No ano passado, uma tentativa de entrar na fabricação por contrato por meio de uma compra de 5,4 bilhões de dólares da Tower Semiconductor, fabricante de chips sediada em Israel, foi frustrada depois que a China bloqueou a negociação.
Sem a Tower, a Intel, que historicamente fabrica seus próprios chips, não tem a experiência necessária para trabalhar com clientes externos, que ela tem tido dificuldades para atrair, de acordo com quatro fontes familiarizadas com os negócios de fabricação da Intel.
Tan ficou frustrado porque a diretoria não seguiu suas recomendações sobre como tornar o negócio de manufatura mais centrado no cliente e remover a burocracia desnecessária, disse uma pessoa próxima a Tan.