Mercado Livre está em alta com IA e empréstimos

O Mercado Livre, que ultrapassou a Petrobras este ano como a empresa mais valiosa da América Latina, está recorrendo a novas maneiras de atender Dias e outros em seu "ecossistema" online, com ofertas que vão além do crédito e incluem conteúdo digital.

A empresa elevou receita com publicidade digital para 1 bilhão de dólares este ano com acordos de conteúdo com empresas como a Disney. A companhia adicionou centros de distribuição para dar suporte aos vendedores e está usando inteligência artificial para impulsionar seus negócios financeiros e simplificar custos administrativos.

"Acreditamos que temos uma enorme vantagem competitiva pelo fato de termos um ecossistema", disse o presidente-executivo da empresa, Marcos Galperin, à Reuters em Buenos Aires. "Quando você tem mais financiamento, o comércio eletrônico cresce. E vice-versa."

Galperin disse que o crescimento do negócio de fintech foi forte, considerando a dura concorrência regional. As receitas de fintech aumentaram quase um terço em relação ao ano passado, segundo dados do segundo trimestre, embora tenham diminuído ligeiramente como porcentagem das vendas gerais. A unidade de crédito cresceu a uma taxa mais rápida, perto de 50%.

"Basicamente, a ideia é dar a cada usuário um banqueiro particular próprio", disse o executivo. Galperin minimizou preocupações que alguns analistas expressaram sobre inadimplência, dizendo que a grande quantidade de dados que a empresa tem sobre seus usuários reduz esse risco.

"Usamos inteligência artificial, usamos aprendizado de máquina, temos muitas informações entre o Mercado Livre e o Mercado Pago que podemos usar... Temos tantas informações sobre essas pessoas que nos sentimos muito confortáveis em conceder-lhes empréstimos."

QUE TAL UM EMPRÉSTIMO?

Atualmente, as ações do Mercado Livre estão cotadas a 2.100 dólares e, em setembro, o Morgan Stanley elevou seu preço-alvo para os papéis de 2.175 para 2.500 dólares. Também em setembro, o JPMorgan assinou um acordo de financiamento de 250 milhões de dólares para expandir os negócios de fintech do Mercado Livre no México.

"Estamos apenas arranhando a superfície de tudo o que podemos fazer", disse Galperin, dando como exemplo o uso do comércio eletrônico e dos pagamentos digitais muito maior na Ásia, Europa e América do Norte. A companhia tem como meta triplicar o número de usuários ativos para 300 milhões.

Mas o Mercado Livre enfrenta forte concorrência de rivais regionais, como Nubank ou Uala, que obteve uma licença bancária no ano passado no México e também está usando inteligência artificial para ajudar os sistemas de pontuação de crédito, disse um porta-voz da empresa.

"Ainda é menor do que os grandes concorrentes, mas tem chamado a atenção", disse Maria Clara Infantozzi, do banco Itaú em São Paulo.

A argentina Silvina Riveros, proprietária de uma confeitaria, estava cansada dos bancos tradicionais e optou por um empréstimo da Uala para comprar eletrodomésticos. "Principalmente devido às comissões mais baratas pelo serviço e à rapidez com que o dinheiro é creditado na conta", disse ela. "Desisti dos bancos de rua, pois há muita papelada e burocracia."

Para além dos empréstimos e do comércio eletrônico, o Mercado Livre também está fazendo experiências com uma frota de entrega por drones para levar mercadorias a consumidores em áreas de difícil acesso no Brasil.

Enquanto isso, milhões de clientes, como a mexicana Irlanda Zermeno, de 24 anos, da Cidade do México, estão fazendo empréstimos menores na plataforma na hora de fazerem suas compras.

Zermeno disse à Reuters que estava comprando um par de sapatos no aplicativo  do Mercado Livre quando apareceu uma mensagem oferecendo crédito para parcelar a compra.

"Eu não procurei (uma linha de crédito), de repente eles simplesmente me perguntaram: você quer uma?", disse Zermeno, que trabalha com relações públicas. "Desde então, eu a uso com frequência. Se você pagar em dia, o valor do crédito que você pode tomar aumenta."