Cientistas criam camundongos com dois pais machos na China

Cientistas da China manipularam células-tronco embrionárias para criar camundongos de laboratório com dois pais machos que conseguiram viver até a idade adulta — embora com anormalidades significativas de desenvolvimento.

Para eles, o feito foi uma conquista notável na engenharia genética de mamíferos.

Se for aperfeiçoada, a pesquisa poderá ser valiosa, segundo cientistas, em possíveis esforços futuros para evitar a extinção de espécies criticamente ameaçadas de extinção. Além disso, poderá contribuir para o campo da medicina regenerativa, que envolve a substituição de tecidos ou órgãos danificados por doenças e outros fatores.

Publicado na revista Cell Stem Cell, o estudo envolveu o direcionamento de um determinado conjunto de genes usados na reprodução para criar o que é chamado de descendência bipaternal, com dois pais biologicamente masculinos em vez de uma mulher e um homem. Isso é chamado de reprodução unissexual.

Embora se saiba que os mamíferos se reproduzem apenas por meio do sexo, alguns outros vertebrados, inclusive alguns répteis, anfíbios, pássaros e peixes, tiveram descendentes por meio da reprodução unissexual. Isso envolveu um fenômeno chamado partenogênese, no qual um embrião se forma a partir de um óvulo sem fertilização.

No novo estudo, os camundongos foram criados por meio da edição genética de células-tronco embrionárias de camundongo visando uma classe de genes específicos de mamíferos conhecidos como "genes de imprinting", dos quais existem cerca de 200, disseram os pesquisadores.

As células-tronco são células que podem se desenvolver em vários tecidos do corpo. As células-tronco embrionárias, presentes em embriões em estágio inicial, têm a capacidade de se desenvolver em todos os tipos de células do feto em desenvolvimento. A maioria dos tipos de células-tronco é menos versátil e pode ajudar a manter e restaurar apenas os tecidos e órgãos nos quais estão situadas.

Os pesquisadores disseram que modificaram 20 dos genes de imprinting e usaram a tecnologia de clonagem para criar os camundongos bipaternais.

"De modo geral, acredita-se que os genes de imprinting funcionam como uma 'trava' que impede que os mamíferos se reproduzam de forma unissexual. Entretanto, essa hipótese amplamente aceita ainda não havia sido comprovada de forma conclusiva", disse o biólogo de desenvolvimento Wei Li, da Academia Chinesa de Ciências, que ajudou a liderar o estudo.

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"Este é um estudo científico fundamental focado em modelos animais. Não há planos de estender esse tipo de experimento aos seres humanos", acrescentou.

Os pesquisadores criaram 1.081 embriões. Desses, cerca de 12% sobreviveram até o nascimento, muito abaixo do que normalmente aconteceria.

Um total de 84 filhotes machos e 50 fêmeas nasceram. Mais da metade morreu antes de atingir a idade adulta. Todos os que atingiram a idade adulta apresentaram defeitos de desenvolvimento, tiveram a vida útil reduzida e eram estéreis.

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