Difícil pensar em crise para quem continua crescendo e lucrando na casa dos bilhões, mas em 2021 o escrutínio sobre o Facebook e Mark Zuckerberg foi sem precedentes.
Primeiro, um apagão em outubro deixou as três principais marcas de sua empresa (Instagram, WhatsApp e Facebook) fora do ar por horas, expôs nossa dependência do conglomerado e fez muita gente repensar sua relação com os apps.
Em novembro, vieram os chamados Facebook Papers, milhares de documentos internos vazados pela ex-funcionária Frances Haugen, que mostraram que o grupo sabe que o Instagram, usado por 2 bilhões de pessoas no mundo, faz mal para a saúde mental de jovens garotas. Além disso, o conglomerado tem conhecimento de que o Facebook facilita ações criminosas de cartéis, de grupos de tráfico humano e toma decisões moralmente questionáveis, como fazer vista grossa para governos autoritários e certas personalidades.
Conhecer mais de perto as entranhas do gigante pode nos levar a outros capítulos. Muitos desconfiam da guinada iniciada com a Meta, novo nome do grupo, mas está em curso um movimento global para estabelecer regras claras.
Este é um debate que corre há tempos, mas que ganhou força depois que Haugen, especialista em produtos algorítmicos e ex-gerente de integridade cívica do Facebook, defendeu, perante o Congresso dos EUA, que os desenvolvedores precisam direcionar os códigos para evitar que sejam viciantes e perigosos — e enquanto isso não acontecer por vontade das empresas, que seja feito por pressão de agências reguladoras, segundo os entrevistados ouvidos pela reportagem.
"Uma mídia social mais segura, com liberdade de expressão e mais agradável é possível. O que espero que todos tirem dessas divulgações é que o Facebook pode mudar, mas claramente não o fará por conta própria", disse Haugen.
"Quando percebemos que a indústria do tabaco estava escondendo o mal que fazia, o governo tomou uma atitude. Quando percebemos que carros eram mais seguros com cinto, o governo tomou uma atitude. Quando o nosso governo aprendeu que os opioides estavam tirando vidas, tomou uma atitude. Eu imploro que agora façamos a mesma coisa", pediu.
Procurada por Tilt, a Meta não quis indicar ninguém para entrevista, mas publicamente já declarou que concorda com a regulação e que "é hora de começar a criar normas padrão para a internet".
"É sempre melhor deixar para os líderes eleitos o desenhar essas linhas sociais. E é por isso que passamos muitos anos defendendo que o Congresso aprovasse regulamentos atualizados", disse Dani Lever, gerente de comunicação da companhia, à mídia americana.
Terminamos o ano com um novo problema na mesa: como fazer essa regulação.