"Como ficar rico no YouTube"

Ok, não é tão simples assim... Veja o que 5 youtubers contaram dos bastidores do trabalho (puxado) com vídeos

Bruna Souza Cruz De Tilt, em São Paulo

Há mais mistérios entre o YouTube e a sua máquina de monetização do que pode imaginar a nossa vã filosofia. Nem os youtubers mais experientes têm a fórmula ideal para ganhar dinheiro fazendo vídeos. O próprio Google, dono da plataforma, diz que não existe uma estratégia única para ter sucesso financeiro. Mas também não é tão raro gerar uns milhares de dólares com uma única publicação.

Tilt conversou com cinco profissionais, de diferentes nichos e com públicos variados, para entender o que já deu certo e onde o algoritmo ainda é uma incógnita:

  • Wiris Viana: vídeos de humor
  • Paulo Biacchi: vídeos sobre design e decoração
  • Marcos Vaz: vídeos com dicas de viagens
  • Camila Monteiro: vídeos sobre emagrecimento e estilo de vida
  • Thaís Albuquerque: vídeos sobre a rotina de médica

Eles toparam abrir detalhes preciosos da remuneração e falaram da rotina que mantém a "máquina caça-níquel" rodando. Deu para detectar variações importantes nos ganhos com anúncios relacionados e apontar algumas estratégias. Confira!

Quem: Wiris Viana, ator e humorista
Começou em: 2016
Ganhou: US$ 1.075 com 2,5 milhões de views, após dois meses da publicação
Vídeo de sucesso: um episódio da websérie "Frases de toda mãe"

Wiris começou fazendo vídeos de paródias, gravados com o celular emprestado do namorado. Foi descobrir como configurar o canal para receber receita publicitária quando já tinha 200 mil seguidores e sua versão da música "Eu Sei de Cor" já tinha viralizado na página de fãs da cantora Marília Mendonça (hoje já são mais 10 milhões de views).

Virava noite editando. Não tinha tripé. Pegava a tábua de passar e levava para tudo quanto é lugar na moto. Gravava todos os fins de semana para lançar um ou dois vídeos por mês."

Nessa época, trabalhava em uma loja de motos e recebia R$ 1.500. Com o primeiro "salário do YouTube", de R$ 500, foi ao mercado "ostentar". "Comprei fruta, iogurte, granola, nem paguei as contas que estava devendo."

Pediu demissão quando o rendimento dos vídeos ultrapassou o salário da loja. Hoje, ganha o suficiente para manter uma empresa, que produzir os conteúdos do canal. Empregou mãe e primos, contratou cinegrafista e editor de vídeo e paga cachê para os figurantes.

No dia 20 de junho, o site SocialBlade estimava que o canal gerava por dia entre US$ 196 e US$ 3.100. Ou seja, ele é capaz de tirar no mínimo US$ 5.880 (quase R$ 30 mil se considerarmos o dólar na casa dos R$ 5) e no máximo US$ 93 mil (quase R$ 465 mil) por mês.

Meu conselho é: não espere pela plataforma. Use sua imagem e engajamento para aumentar sua receita com outras redes sociais. Nem todo youtuber ganha bem, é um erro achar isso."

Como faz para ganhar dinheiro

  • Vire parte do time

    Para ser "verificado" e passar a ganhar participação na receita dos anúncios, é preciso entrar no Programa de Parcerias do YouTube. Fazer parte do Clube de Canais e YouTube Premium traz vantagens.

  • Receita de anúncios

    O grosso vem da publicidade rodada nos vídeos. O YouTube repassa parte do valor para quem produz o conteúdo. Mas recursos como super chat e super stickers também rendem.

  • Seja popular

    É requisito para fazer parte do time ter mais de mil inscritos e mais de quatro mil horas de exibição públicas (válidas nos últimos 12 meses).

  • Receba em dólar

    A distribuição da receita é feita em dólar, de modo automatizado, com ajuda de inteligência artificial. É preciso ter uma conta do Google AdSense vinculada.

  • Junte um saldo

    Você só consegue transferir o valor recebido depois que o canal acumular um saldo mínimo de US$ 100 no mês.

  • Escolha a publicidade

    Anúncios podem aparecer antes, durante e/ou depois do vídeo, é você quem define a preferência.

Quem: Paulo Biacchi, designer de produtos
Começou em: 2015
Ganhou: US$ 2.200 com 1 milhão de visualizações, após três meses da publicação
Vídeo de sucesso: "5 erros na minha cozinha"

O ganho é bem menos constante do que parece. Paulo Biacchi é veterano no YouTube, trabalha, em média, 60 horas por mês só com vídeos para a plataforma —sem contar o que faz como designer, apresentador e influencer do Instagram— e ainda sofre tentando acertar.

"Eu gosto de criar, fico viajando em outros formatos, imaginando um reality show, mas nem sempre traz resultado", diz.

Para se ter uma ideia, o vídeo mais popular do canal ("50 dicas de decoração que você precisa saber", com 1,5 milhões de views) gerou US$ 2.200 ao longo de dois anos e meio. Mas, em fevereiro, rendeu só US$ 6. No mesmo mês, o vídeo sobre os erros na cozinha deu US$ 300.

O YouTube, às vezes, não dá nada. De repente, alcança um número alto de visualizações e rende. Tem vídeo que eu me mato para produzir, com uma equipe de 10 pessoas, e dá 50 mil views. É uma semiloteria"

Paulo percebeu que os vídeos simples rendem mais que as superproduções. Seu canal tem exemplos de vídeos elaboradíssimos, como os que mostram o antes e depois das casas das cantoras Liniker e da Pitty, mas são os DIY (do inglês, faça você mesmo) dos vaso de concreto que atraem o público.

Na comparação com Wiris, fica claro que o vídeo de decoração rendeu bem mais que a comédia em menos tempo e com menos visualizações.

  • US$ 2.200 em 3 meses x US$ 1.075 em 2 meses
  • Diferença de US$ 1.125 com 1,5 milhão de views a menos

Quem: Marcos Vaz, produtor de conteúdo e professor de fotografia
Começou em: 2014
Ganhou: US$ 933 quando chegou a 1 milhão de visualizações, após seis meses da publicação
Vídeo de sucesso: "Maldivas - Quanto custa viajar para esse paraíso?"

Marcos Vaz nem chegou a trabalhar como engenheiro civil. Na faculdade, já publicava no YouTube e dava cursos de fotografia. Formado, decidiu investir todo o tempo nos vídeos. "Só pensava que tinha que dar certo", diz. "E fui achando maneiras de viajar sem gastar dinheiro."

O primeiro dólar veio em 2015. Cinco anos depois, o canal rendeu no total cerca de US$ 10 mil —uma média de R$ 833 por mês, considerando o dólar na casa dos R$ 5.

Até bater US$ 100 no YouTube, demorou quase um ano. Fazia vídeos curtos que não iam muito bem. Dois anos depois da criação do canal, consegui US$ 116 e já tinha cerca de 50 vídeos."

Agora, Vaz costuma fazer vídeos com no mínimo oito minutos. Ele percebeu que conteúdos longos permitem anúncios no meio do vídeo, além do começo ou do final. Ativar isso aumenta muito a chance de gerar mais receita.

Quem é: Camila Monteiro, influencer digital
Começou em: 2019
Ganhou: US$ 1.141 após completar um ano de canal
Vídeo de sucesso: "Meu banho após cirurgia plástica (rotina completa)"

Famosa no Instagram, onde tem 3,2 milhões de seguidores, Camila decidiu usar a plataforma de vídeos como uma extensão de seu trabalho e fez seu primeiro saque, de US$ 683,28, quando tinha 20 mil inscritos.

Em uma estratégia para divulgar mais o canal, publicou durante um mês um vídeo por dia. O resultado foi imediato: conseguiu faturar US$ 457,14 e chegou a 80 mil inscritos. Em 30 dias, ganhou quase o mesmo do que acumulou desde a existência do canal. Em 2020, recebeu mensalmente de R$ 3 mil a R$ 5 mil.

Hoje, já sacou que o que funciona no canal são os relatos "gente como a gente", em que traz suas experiências pessoais para os seguidores.

Com um vídeo, em que conto sobre como perdi peso fazendo reeducação alimentar, ganhei R$ 1.200"

Quem é: Thaís Albuquerque, médica e psicóloga
Começou em: 2017
Ganhou: US$ 1.071 total ao longo de pouco mais de dois anos de canal
Vídeo de sucesso: "Study With Me (Estude comigo) na quarentena"

Thaís tem o menor canal em número de inscritos e usa a plataforma como uma válvula de escape. Inicialmente, fazia vídeos em meio à rotina puxada de estudante de medicina. Agora, aborda temas como médica formada — ela trabalha em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) em São Paulo.

Levou um ano e dois meses até que conseguisse chegar aos primeiros US$ 100 necessários para fazer o primeiro saque. Seu vídeo com mais visualizações só começou a render sete meses depois de publicado, em setembro de 2020, quando já marcava 75 mil views. Ela recebeu US$ 65,31.

Hoje, todo o valor que recebe do YouTube usa para reinvestir no canal. Já comprou equipamentos e iluminação.

Por que varia tanto?

O que atrai mais anunciantes: viagens ou games? Entretenimento ou dicas de estudos? É isso que o algoritmo considera ao identificar nichos de mercado que potencialmente atraem mais verba publicitária.

"Um canal que fala de golfe alcança um público muito menor que um canal que fala de todos os esportes, tem menos visualizações e, assim, menor receita", explica Douglas Rodrigues, gerente de parcerias do YouTube.

A sazonalidade também impacta. Quanto mais o mercado fica aquecido, mais dinheiro é investido na plataforma, que repasse para os produtores de conteúdo. "Isso varia para cada indústria. Natal é bom para o varejo, o começo do ano para o setor da educação", ressalta.

O algoritmo do YouTube usa uma série de métricas para dizer se determinado vídeo é relevante ou não para você:

  • Marcações de "gostei" e "não gostei";
  • Número de inscritos no canal;
  • Quantidade de tempo assistido do seu vídeo.
  • Índice de retenção (se uma pessoa abandona segundos depois que entrou, o algoritmo entende que o conteúdo não é tão relevante)


Por tudo isso, quanto mais vídeos você fizer, mais chance tem de gerar visualizações e, quem sabe, viralizar um conteúdo. E é aqui que mora o perigo: os youtubers estão ficando exaustos de tanto produzir para manter essa relevância.

Então, se você curte um conteúdo, deixe seu like, inscreva-se no canal. Esse ainda é o melhor jeito de dar uma força para quem está entregando os vídeos que você ama.

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