Ao se formar, em novembro de 1986, Edvaldo cumpriu a segunda das metas traçadas ao sair de casa. Faltava a primeira. Ela foi riscada da lista quando ele virou funcionário da Ericsson em fevereiro do ano seguinte. Sua admissão na companhia foi resultado de um misto de habilidades técnicas, oportunidade e uma mãozinha do irmão.
Já empregado na área financeira da Ericsson, o irmão mais velho soube da vaga para engenheiro e avisou o caçula. Só não contou que dominar o inglês era um requisito básico. Durante o processo de entrevista, Edvaldo foi chamado para conversar com a professora de inglês, que iria testar seus conhecimentos do idioma —ou a falta dele, neste caso. "Talvez tenha sido o maior constrangimento da minha vida. Me senti aliviado quando ela disse que o inglês não era tudo para a vaga", lembra.
Na conversa com o gerente contratante, ele engoliu a vergonha, tomou coragem e lançou o desafio: "Se em cinco ou seis meses eu já não estiver falando alguma coisa de inglês, pode ter certeza que eu peço demissão. Não darei trabalho para a empresa", disse. A atitude foi vista com bons olhos, mas não lhe poupou de ouvir uma alfinetada do diretor da área em que foi trabalhar: "Você é uma contratação de risco. Sem inglês, você é nada."
Após seis meses de empresa, o engenheiro já ensaiava conversas com estrangeiros com quem trabalhavam na unidade em São Paulo. Recém-formado, chegou a gastar 70% do salário em um curso de idiomas. Usava as férias para fazer intensivos, trancava-se nos laboratórios da escola de idioma e até pedia para os colegas mais próximos corrigirem as lições de casa. "Eu fiz sacrifícios para ter o melhor inglês daquele departamento."
Edvaldo não conhecia a Ericsson na época, mas já imaginava que teria que mostrar muito mais competência e determinação por ser um profissional negro. "Em caso de empate para uma oportunidade, era de se esperar que ela fosse oferecida a um branco. Dar 20% a mais não era suficiente. Talvez eu tivesse que fazer 100% mais", afirma. "Mas isso não me perseguiu."
Apesar de tratar sua progressão com naturalidade, Edvaldo sabe que é uma exceção. Apesar de a maioria da população brasileira ser negra (pretos e pardos somam 56% do total, segundo o IBGE), os profissionais negros são raridade em cargos de liderança. Pesquisa do Instituto Ethos em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento de 2016, mostra que só 4% dos chefes das 500 maiores empresas do Brasil são negros.
"Acho que a Ericsson é referência [em diversidade] e meu desejo é ver outras empresas fazendo o mesmo", acrescentou.
Após três anos na empresa, Edvaldo usou as férias para passar um mês nos Estados Unidos aperfeiçoando o idioma. Na volta, o mesmo diretor que cobrou dele o conhecimento da língua disse para ele fazer as malas. Chegou a achar que tinha chegado a hora, que seria demitido. Veio a surpresa. Ele fora escolhido para trabalhar na matriz da empresa, na Suécia. Depois do susto, a ficha caiu: ele havia vencido. Convites assim eram destinados a profissionais com 15 anos de casa.