Tilt: A Uber é uma empresa que mudou até as relações humanas. O que podemos prever para os próximos 10 ou 15 anos? Ela pode continuar transformando a sociedade?
Claudia Woods: Vai continuar. Uma visão importante é a gente entender que a Uber não é mais uma empresa de ride sharing [compartilhamento de caronas], de aplicativo de transporte. Ela já é uma plataforma de vários tipos de empresas, todas relacionadas à locomoção do ponto A ao B. Às vezes de pessoas, de coisas, comida. Quando a gente olha para o presente, para a cidade de São Paulo, temos o Uber ride sharing, o Uber Eats [app de delivery de comida] e, em breve, teremos patinetes e bicicletas elétricas...
Tilt: Eu conversei no ano passado com o Ryan [Rzepecki], CEO da Jump [serviço de bicicletas elétricas compartilhadas da Uber], e ele me falou que até 2019 a empresa chegaria ao Brasil com patinetes e bicicletas. Por que não chegou ainda?
Claudia Woods: Chegará, ainda estamos em 2019. Aí já são três opções dentro de uma mesma plataforma.
Quando a gente olha para o futuro, o que enxergamos? Denver, onde já há integração com o transporte público e você consegue fazer um planejamento de rota levando em consideração carro, patinete, ônibus e metrô, até com integração de pagamento. Isso seria uma plataforma em um nível mais completo. Quando a gente olha além desse mercado mais óbvio, tem o Uber Freight [frete], que já é relevante no mundo da logística, mudando completamente a relação das empresas com suas frotas de transporte de carga.
E tem o tão sonhado carro voador. O Uber Air já é uma realidade, existem parcerias com empresas como Embraer e Boeing para começar o desenvolvimento desse hardware para a gente começar a pilotar em 2023. É o melhor exemplo de que a gente não tem limites. Mostra nossa ousadia, nossa busca pela inovação contínua. Essa plataforma não termina na patinete ou na bicicleta, ela vai cada vez mais além do esperado.
Tilt: No Brasil já existem conversas para usar o transporte público como em Denver? Já houve alguma tentativa disso, uma aproximação?
Claudia Woods: Apesar de ser uma empresa gigante que atua globalmente, no Brasil a gente atua no nível do município. Essas conversas com o Transit estão em andamento nesse nível. É até um dos nossos valores: "we build globally, but we act locally" ["construímos globalmente, mas agimos localmente"]. Não adianta pegar o produto que foi implementado em Denver e falar 'beleza, vamos implementar aqui em São Paulo, tá aqui'. Essas conversas estão em andamento.
Tilt: O que vem primeiro? O carro voador da Uber ou o carro autônomo?
Claudia Woods: É a pergunta de um milhão de dólares, reais, bitcoins, qualquer moeda que queira. Quando a gente fala de autônomo, a gente precisa reprogramar nosso cérebro para entender o que é isso. Não estamos falando dos 600 mil carros da plataforma virarem autônomos. A tendência é isso começar primeiro em um mercado de logística, com caminhões em estradas e rotas e ambientes muito previsíveis.
Pensamos muito no carro e na tecnologia, se está pronta. E aí ouvi um exemplo em uma palestra: o carro autônomo está na fila de buscar as crianças na escola. Chega a vez de pegar seu filho e a criança foi ao banheiro, não está no local naquele momento. O que ele faz? Espera e segura a fila inteira? Entende que tem que dar meia-volta? Ele sabe que vai voltar para o fim da fila? Tem um lado humano nisso.