Tilt - O projeto também envolve um uso intensivo de sensores de IoT. Como isso funciona?
Ranveer Chandra - Se você deseja criar mapas que mostrem umidade do solo, níveis de temperatura e de nutrientes no solo em toda a fazenda, você precisa de um sensor com câmera a cada 10 metros. Isso é o estado da arte. Só que é caro e difícil de gerenciar sensores a essa distância. E também atrapalha o fazendeiro. Então tentamos construir um mapa como esse usando menos sensores.
Se você não quiser um mapa tão refinado, é só colocar sensores a cada poucos acres e usar cálculos matemáticos para definir se, indo dos pontos A ao B, a umidade na região é X ou Y. Mas esse método é impreciso. Resolvemos o problema usando inteligência artificial e drones. O que estamos fazendo é juntar a percepção coletada no solo com a trazida pelas imagens aéreas, feitas por drones e até mesmo de satélites.
De forma simplificada, usamos dois insights: se há duas áreas próximas em uma fazenda, é provável que elas sejam similares; e se elas podem ser similares, é provável que possuam as mesmas características. Então, codificamos essas duas ideias em um modelo de inteligência artificial. Com isso, conseguimos previsões sobre os locais onde não há sensores.
Tilt - Todos estes aparelhos têm de se conectar à internet para funcionar. Mas como fazer isso em um ambiente em que a conexão é limitada?
Ranveer Chandra - Com os espaços em branco de TV, conseguimos levar conexão a cada dispositivo. Com a segunda técnica, precisamos de menos dispositivos para criar mapas digitais da fazenda. A terceira técnica que usamos é evitar enviar para a nuvem todos os dados da fazenda, porque a conectividade é fraca. Algumas dessas fazendas internet de só 128 megabits por segundo. Se estou pilotando um drone, um simples sobrevoo de 15 minutos pode gerar mais de 1 gigabyte de dados. Não dá.
Por isso, o que usamos é a Internet das Coisas de borda. Funciona assim: um computador fica no escritório dos fazendeiros. Ele recebe dados dos sensores da e faz todo o processamento de visão computacional e inteligência artificial que é enviado para a nuvem. Nos servidores, essas informações são fundidas a dados meteorológicos, de satélite e de solo, para surgirem insights sobre a fazenda.
Nós até fazemos algum processamento no drone, outro nos sensores e um pouco nas câmeras. Mas quando pensamos em [computação de] borda, você pode pensar nela como uma arquitetura em camas. Ou seja, por um lado, há dispositivos com baixa capacidade de computação e, por outro, há a nuvem, que tem capacidade de processamento quase que infinita. Com isso, dá para distribuir tarefas e decidir onde cada coisa é executada: que parte da tarefa deve ser executada no PC, no drone ou na câmera.
É nesse processamento que o ciclo se fecha. Por exemplo: você sobrevoa uma fazenda com um drone que captura imagens de subseções da plantação; elas são usadas para criar algo como uma representação 3D da própria fazenda; a partir daí, criamos uma vista panorâmica digital. Isso é feito por um algoritmo de visão computacional pesado, que precisa rodar em um PC porque um sensor teria dificuldade.