Tilt: Falando um pouco de cidades, você deve ter visto um pouco de São Paulo já, uma cidade muito caótica, com muito trânsito. A tecnologia realmente pode resolver isso, talvez com mais semáforos inteligentes, transporte público? Que soluções você acha que são as melhores para uma cidade como São Paulo?
Roland Busch: Eu realmente acredito que cidades vão ter um sistema operacional que permita que a cidade gerencie a infraestrutura em vez de ser gerenciada por ela. O sistema operacional otimiza seu sistema de energia, suas redes, seus prédios, gerencia seu trânsito... E esse sistema é poderoso porque derruba barreiras. O setor de mobilidade e o setor de energia não conversam entre si atualmente. Eles são executados de maneira independente nas cidades. Imagine você ter 50% do tráfego sendo elétrico. Esses setores precisam se comunicar entre si, ter pontos de recarga, ter os carros armazenados alimentando de volta o sistema de energia.
Tilt: E isso pode ser ampliado para outros modais, como vemos surgir a cada dia?
Roland Busch: Precisa de um gerenciamento de tráfego entre modais. Atualmente você tem os táxis, tem Uber, tem transporte público, outros modais. Você precisa conectá-los. Precisa ter uma plataforma que saiba como tirar vantagem desses diferentes modais. E se você quer realmente gerenciar o trânsito em uma cidade como São Paulo, a primeira coisa que você precisa fazer é aumentar a capacidade do sistema público de transporte, principalmente mais linhas de metrôs, mas também linhas de ônibus.
E então você também precisa usar a infraestrutura dinamicamente. Por exemplo: tornar o uso de ruas mais caro se você quiser puxar as pessoas para o transporte público. Você pode fazer isso permanentemente ou em horários de pico. Se você tiver um grande evento em São Paulo, pode tornar o transporte público muito barato e o estacionamento muito caro, então você empurra as pessoas para o transporte público por um tempo, até o evento terminar. Isso é gerenciar uma cidade e só pode ser feito se tiver um sistema operacional. Isso faz para mim cidades como São Paulo um lugar mais agradável de se viver daqui a alguns anos.
Tilt: Quais outras soluções você aponta como impactantes para os próximos anos?
Roland Busch: Eventualmente você quer saber de onde é que essa água está vindo. Nós estamos trabalhando em uma solução que você consiga fazer o rastreamento do começo ao fim, de qual a fonte enchendo a garrafa que você tem. Seria uma personalização ou a checagem de alta integridade do que você tem. É muito importante para comidas, bebidas, mas ainda mais para remédios. Sabemos que muito dinheiro é gasto com remédios que não funcionam para seu corpo, mas podem funcionar para outro, em particular para doenças como câncer. Nós estamos caminhando para um futuro em que desenharemos um remédio para suas necessidades pessoais e isso requer o rastreamento e a conexão de todo o processo.
Tilt: Como isso é possível?
Roland Busch: É possível em primeiro lugar ao identificar seu DNA. O que tem de errado com você, se você tem câncer. Levar essa informação de volta vai gerar uma enorme quantidade de dados. Então você leva de volta para a linha de produção em 'lot size one' [N.R.: 'Lot size-one' é um termo da indústria 4.0 da personalização dos itens fabricados, em contrate à produção em massa] só para uma pessoa. Cria um remédio só para uma pessoa, mas com o mesmo custo de se fosse produzido 100 vezes. Isso é o que a digitalização pode fazer.
Tilt: Quão próximo estamos disso?
Roland Busch: Eu acho que em relação a produzir em lot size one estamos muito próximos. Encontrar como montar um remédio que funcione exatamente para uma pessoa acho que ainda tem um caminho pela frente. Ainda vai levar um tempo, mas você estará vivo.