É natural que tecnologias de ponta acabem ficando restritas, em seus primeiros anos de existência, a países desenvolvidos. Carros elétricos, por exemplo, ainda não são comuns no Brasil, apesar de já fazerem parte do cenário de grandes cidades mundo afora.
Com os autônomos não deverá ser diferente. Além de dependerem de uma legislação específica, carros do tipo também se valem da infraestrutura ao seu redor e, aqui, estamos falando de um país cujas ruas são fartas em buracos e carentes, por exemplo, de sinalização tanto na forma de faixas quanto de placas -algo fundamental para o funcionamento correto de carros do tipo.
Tilt - O Brasil ainda está muito atrás em termos de infraestrutura. Como isso pode impactar a chegada dos autônomos e qual seria uma solução razoável?
João Oliveira - Eu acredito que alguns países vão sair na frente nessa questão, óbvio, especialmente os que já passaram pelo desenvolvimento social que lugares como o Brasil ainda têm que passar. Aqui, ainda há questões bem mais básicas para serem superadas. É aqui que entram os fabricantes. Eu entendo que eles terão que participar de alguma forma da construção dessa infraestrutura se quiserem antecipar esses movimentos, porque o governo tem prioridades muito mais relevantes para a população.
É o caso da eletrificação, por exemplo. A Volvo está partindo para a instalação de 500 eletropostos, porque a gente quer liderar a agenda de eletrificação no Brasil. Sabemos que é uma barreira para o consumidor comprar carros elétricos, porque não há postos de abastecimento elétrico disponíveis em boa quantidade. Se for esperar o governo implantar essa infraestrutura, nunca vamos conseguir avançar com o programa de carro elétrico, já que o Brasil tem outras prioridades bem mais urgentes.
Tilt - O Brasil tem um dos trânsitos mais letais do mundo, com mais de 30 mil pessoas morrendo todos os anos. Você acha que carros autônomos ajudariam a tornar as ruas mais seguras?
João Oliveira - Sem dúvida. Eu acredito que até por essa razão muitas cidades no futuro deverão regulamentar áreas nas quais você só pode operar em modo autônomo, o que não deixaria de ser até uma questão de saúde pública, já que garantiria a segurança dos cidadãos nesses locais.
Esses carros também ajudariam a tornar o trânsito mais amigável, sem comportamentos nocivos como quando alguém acelera não dar passagem para outra pessoa.