Crescer pelas beiradas

CEO da Algar Telecom: operadora mineira mira novos clientes com fibra óptica fora dos grandes centros

Guilherme Tagiaroli De Tilt, em São Paulo Arte UOL

Se você curte maratonar séries, já deve ter se perguntado qual operadora oferece a melhor velocidade de download. Segundo o ranking nacional da Netflix, é a mineira Algar. A empresa também venceu neste ano como melhor velocidade e melhor provedor de Minas Gerais pela avaliação do site Melhor Plano.

Mais conhecida de quem vive na região central (de Minas, expandiu para o Distrito Federal e arredores), ela existe há 60 anos e hoje possui uma vasta rede de fibra óptica que atende do Nordeste ao Sul do país.

Ela é bem menor que as quatro grandes teles (Vivo, Claro, Tim e Oi), mas já possui cerca de 2 milhões de clientes —a Vivo, por exemplo, tem quase 80 milhões só em linhas móveis.

Para se diferenciar, o fundador Alexandrino Garcia desenhou um modelo eficiente de atendimento aos conhecidos problemas com internet, com direito a funcionários que "falam a língua do cliente" que vive em cada cidade atendida. Na entrevista a seguir, Jean Borges, atual diretor-presidente da Algar Telecom, conta que isso ainda é o que garante o sucesso da companhia.

O próximo passo é atrair cada vez mais clientes e ampliar a atuação enquanto o 5G se aproxima, mas mantendo uma "pegada local", como diz o executivo. Para isso, há um investimento pesado em levar fibra óptica para quem ainda não tem.

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Tilt: A Algar costuma figurar bem em rankings de qualidade de internet e atendimento. O que há por trás disso?

Jean Carlos Borges: O pensamento do fundador ainda é muito presente. É uma pegada cultural, onde realmente é colocado o propósito de gente servindo gente. As pessoas que estão na Algar Telecom têm que gostar de servir, de se relacionar. Nossos associados são empoderados para atender o cliente. Se houver problemas estruturais, eles resolvem e, depois, melhoram o processo. Há todo um estímulo para que isso seja feito de maneira muito rápida.

Tilt: A Algar Telecom sempre quis ser uma operadora regional? Nunca houve uma tentativa de expandir os limites?

JCB: Costumo dizer que nossa operação é pan-regional, pois estamos presentes em 16 estados e mais de 360 cidades. Nem sempre foi assim. Até 2015, estávamos basicamente na região Sudeste, em torno de 120 cidades. Atualmente, somos uma operação pan-regional, mas com uma pegada local.

Temos uma forte representatividade local, tanto de técnicos quanto do pessoal do comercial. Eles falam a língua do cliente e buscam resolver problemas e acelerar nas soluções. Em nosso segmento B2B [de empresas], nem sempre nossos clientes têm um CIO [responsável pela área de tecnologia da informação]. Então, nossa presença ajuda muito no fornecimento de soluções para os problemas do dia a dia dessas empresas.

Tilt: A ideia então não é bater de frente com as grandes teles, mas "ir comendo pelas beiradas"?

JCB: Não diria que competimos com as grandes, pois elas são muito voltadas para o varejo e a uma operação de grande escala. Nos tornamos cada vez mais relevantes em termos de clientes, mas somos focados em fibra óptica, internet fixa, entre outros serviços.

Em nossa região de origem, competimos de igual para igual. Nesses locais temos uma boa fatia de mercado, com mais de 30% de participação. Mesmo assim, é algo pequeno considerando o tamanho do Brasil. Seria muita ousadia dizer que tenho competição de igual para igual com eles, mas em 87 cidades, sim.

Tilt: Quais as principais unidades de negócio?

JCB: Para pessoa física, atuamos com serviço de telefonia móvel (3G, 4G e 4.5G) — já caminhando para o 5G — e banda larga fixa. Num total de 600 mil clientes, 450 mil já estão conectados com fibra. Das 87 cidades em que estamos, apenas 9 delas têm mais de 100 mil habitantes. Somos a prova cabal de que operações regionais são importantes, pois aumentam a competição e a satisfação dos clientes.

Para empresas, temos serviços de voz, dados, conectividade em fibra óptica, serviços de IoT (Internet das Coisas) e serviços TIC.

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Tilt: A venda da Oi para TIM, Claro e Vivo é ruim para o mercado?

JCB: Existe uma concentração. Quando isso acontece, pode prejudicar a competitividade e até mesmo a relação de ofertas para clientes. Este é um processo que precisa ser bem analisado para verificar se, no fim das contas, o cliente final será prejudicado ou não.

Tilt: Qual é a importância de provedores regionais no Brasil? Acha positiva essa competição?

JCB: Super positivo. São as empresas regionais que estão fazendo a universalização do acesso à banda larga em fibra. O Brasil tem quase 5.700 municípios. Se você considerar 90% do PIB (Produto Interno Bruto) do país, ele deve estar concentrado em 500 cidades. E as outras 5.200?

Tilt: Quais são os principais entraves para a Algar crescer?

JCB: Existe uma dificuldade em passar cabos. Em locais como São Paulo, há muitos fios em postes que não têm mais utilidade. É sucata ou ligação clandestina.

Antes, se o município não respondesse a uma solicitação para instalar antena móvel, já era. Agora, pelo menos, se não houver resposta em determinando período, é possível realizar a instalação, mas ainda tem muita coisa que precisa ser mudada.

Um exemplo é o direito de passagem em rodovias. É algo absurdo, pois a lei de antenas diz que as concessionárias devem ceder espaço, mas nem sempre isso funciona.

Resolvendo estes pontos, certamente haverá uma maior oferta e uma redução de custos para os clientes.

Tilt: O que a Algar espera do 5G?

JCB: O 5G vai ser transformador. Há muitas aplicações, mas o agronegócio deve ser uma das primeiras frentes impactadas. Para o cliente residencial, devemos ter o melhor dos dois mundos. Fora de casa, uma conexão melhor e estável. Em locais fechados, conexão ao wi-fi via fibra, com estabilidade e robustez.

Tilt: O edital do 5G dá margem para competição?

JCB: Pela primeira vez se falou em um leilão não-arrecadatório [todo o dinheiro será usado para investir no acesso à internet nos rincões]. Há uma visão de ajudar a fazer com que o 5G chegue a mais pessoas. É muito positivo. Quem comprar o lote nacional não pode levar mais do que duas regiões, isso faz com que haja uma perspectiva de crescimento para operadoras locais. Se isso acontecer, vai trazer mais opções para os clientes.

Tilt: Existe alguma preocupação com as regras do leilão?

JCB: O único ponto é sobre como vai ser a limpeza da banda Ku [frequência das antenas parabólicas e que passará a ser usada no 5G]. Como está, a limpeza começará por quem comprar os blocos [de frequência] nacionais. Precisa ser algo organizado. Caso contrário, há o risco de se olhar apenas para as grandes cidades, e se esquecerem das outras 5.200.

Tilt: Como vocês viram a politização do 5G? A saída de algum fornecedor atrapalharia vocês?

JCB: Se você tirasse a Huawei, isso geraria aumento de custos, mas a ideia da rede privativa resolveu isso. Como está o edital, não deve haver impacto para as operadoras e nem para os clientes. Haverá competição entre os fornecedores, e isso é sensacional.

Tilt: Com o leilão, a Algar pretende entrar em áreas geográficas onde não atua?

JCB: Vamos participar do leilão na área em que atuamos. E estamos olhando para outras regiões, mas não posso dizer nada no momento. Nos outros anos, só tínhamos nossa região. Agora, pelo menos, temos opções para analisar.

Tilt: O que a Algar precisa melhorar?

JCB: Mesmo com status de empresa que respeita o cliente, esta é uma esfera que sempre dá para melhorar. Estudamos disponibilizar canais mais digitais, menos burocráticos. Também analisamos formas de melhorar o ambiente para nossos associados para que estejam satisfeitos e, assim, possam atender bem nossos clientes.

Queremos crescer na questão de sustentabilidade. Esta é uma área que promove um círculo virtuoso, pois atrai talentos e é positiva para o meio ambiente.

Tilt: E para o futuro?

JCB: Devemos expandir nossa operação B2B (para empresas). Temos um backbone [espinha dorsal da rede] de mais de 80 mil km de fibra óptica, que vai de Uruguaiana (RS) a Fortaleza (CE). Ele passa por mais de mil municípios e operamos em apenas 360 deles.

Em B2C (para pessoas físicas), temos uma operação consolidada em 87 cidades, o que nos credencia a expandirmos para outras regiões, aproveitando melhor nossa infraestrutura.

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