Em 2017, a Three Square Market, empresa de Wisconsin (EUA), anunciou que havia substituído os crachás de seus funcionários por microchips. A medida foi atacada por especialistas e autoridades que viam ali uma possibilidade de o empregador condicionar a vaga ao uso do chip —e, com ele, monitorar cada atividade do funcionário, inclusive pausa, idas ao banheiro, duração do seu almoço, quanto tempo durou sua folga. Isso seria possível com a instalação de leitores RFID/NFC por todos os cantos da empresa.
Na época, o CEO da companhia, Todd Westby, disse que a adesão era totalmente voluntária. "Somos uma empresa de tecnologia, e os funcionários naturalmente se interessam pelo que é novo", disse ele à BBC Brasil. Ele também contou que dois hospitais brasileiros haviam demonstrado interesse em realizar testes com o chip em pacientes com doenças degenerativas. "O Brasil será nosso próximo mercado", anunciou.
Claro que houve quem suspeitasse que o anúncio era uma jogada de marketing. Mas, no auge do frisson, a professora de sociologia na Universidade de Wisconsin-Milwaukee Noelle Chesley defendeu, em extensa reportagem do "USA Today", que a humanidade já deveria se acostumar com a ideia: dez anos atrás, os funcionários também não conferiam os emails corporativos no fim de semana, mas isso foi sendo incorporado aos hábitos, "gostemos ou não". Os chips, afirmou a especialista, serão onipresentes —seja debaixo da pele ou acoplados em algum gadget vestível.
Michel Daoud Yacoub, professor titular de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), concorda: "Mais cedo ou mais tarde seremos 'chipados'"
Apesar de ser taxativo, o especialista contou em entrevista ao Tilt que não está animado. Para ele, apesar dos prós, estaremos perdendo, e não ganhando, liberdade. "Eu, particularmente, não gostaria de viver este tempo. Tudo bem que hoje já se vive parte disso com as redes sociais. Mas elas são opcionais. Uma vez instalados, os chips serão parte integrante (dos corpos)."
Os chips tolherão a sua liberdade e você deixará de viver a sua individualidade
Mais do que isso, afirma ele, no futuro poderemos ser "chipados" com inteligência artificial, numa tentativa de suprir uma demanda de habilidades exigida pelo mercado. "A conversa pode ir longe, mas chegará sempre na filosofia, na ética e na moral", completa.