"Como vocês devem saber, tem sido um ano muito agitado para a inteligência artificial", disse Sundar Pichai com um sorriso meio amarelo. Apesar de o CEO do Google ter iniciado assim o Google I/O 2023, seu maior evento, nada do falatório sobre a tecnologia do momento foi gerado pela empresa de Mountain View.
Até agora, o grande protagonista dessa onda tem sido o ChatGPT. Exemplar de uma espécie chamada de IA generativa (capaz de criar conteúdo), esse chatbot (serviço de conversação) assustadoramente humano conseguiu romper pela primeira vez a bolha dos desenvolvedores e impactar a rotina das pessoas. O inimaginável quase aconteceu: a Samsung cogitou trocar em seus produtos o buscador do Google pelo Bing, turbinado pela Microsoft com o ChatGPT.
O Google está enfrentando seu maior desafio dos últimos 20 anos. Desde que foi lançado, nada surgiu no mercado que nos fizesse ter vontade ou desejo de trocar de ferramenta como ocorre agora Junior Borneli, fundador da escola de inovação Startse
E a resposta veio na quarta-feira (10). Em uma espécie de contra-ataque às "forças rebeldes" —fãs de Star Wars entenderão—, a empresa não poupou poder de fogo: ao longo de mais de duas horas, executivos apresentaram exaustivamente o novo arsenal do Google nesta frente de batalha, de serviços amplamente conhecidos, como Gmail e Fotos, a algumas caras novas, como o soldado criado especialmente para bater de frente com o ChatGPT, o Bard, e o cérebro de toda estratégia, o PaLM-2.
Os investidores até que gostaram: a empresa já ganhou US$ 131 bilhões em valor de mercado desde os anúncios. Algumas novidades, porém, mal chegaram e têm o jeitão de "eu já vi esse filme antes". Outras ecoam o ar de irresponsabilidade que críticos atribuem ao ChatGPT, como a capacidade de detonar cadeias produtivas inteiras. De todo modo, ainda que esteja criando armas potentes, o Google sabe: a batalha não será fácil, a sobrevivência exigirá alguns sacrifícios e, como contou Pichai a Tilt, "algumas coisas podem mudar enquanto o progresso continua".