Guia do lixo eletrônico

Nunca jogamos tantos aparelhos fora, mas há uma saída: aprender o descarte correto

Fabiana Maranhão Colaboração para Tilt Arte/UOL

Lixo eletrônico é um problema sério. Todo ano, jogamos no ambiente uma montanha de metais, plásticos e elementos químicos de manuseio delicado, e sociedade ainda não encarou isso com a devida preocupação. Para você ter uma ideia, o mundo gerou 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico só em 2019 —uma média de 7,3 kg por pessoa.

No Brasil, foram 2,1 milhões de toneladas, 10,2 kg por habitante. Somos o quinto país que mais produz esse tipo de lixo, segundo o relatório "Global E-Waste Monitor 2020", da Aliança Mundial para o Controle Estatístico dos Resíduos Eletrônicos.

Em 2018, a fábrica de baterias Saturina virou "garimpo" de placas de chumbo em São Paulo, com moradores da cidade escavando a terra para coletar o metal para vender em ferros-velhos. O chumbo é tóxico à saúde humana.

Há saída para isso? Sim, está no descarte, coleta e reciclagem adequados de equipamentos eletroeletrônicos. Vamos ensinar aqui todos os passos e trazer exemplos de quem está batalhando para reduzir esse estrago na natureza.

Ajude a separar seu lixo

Conhecer os tipos de lixo eletrônico é muito importante para entender a forma adequada de descartar cada um deles.

  • Se houver muito lixo, separe por linha (verde, marrom, azul etc.)
  • Se forem todos de uma linha, defina por tamanho. Ou seja, separe aparelhos maiores, como TVs, computadores e eletrodomésticos, de menores, como celulares, carregadores e gadgets.
  • Separar os equipamentos que funcionam totalmente ou parcialmente dos que nem ligam ou carregam mais, ou estão severamente avariados.


Só depois disso é que seguiremos o próximo passo: procurar um ponto de coleta.

Entenda as leis

Você precisa procurar um lugar para deixar seu lixo eletrônico. Não é papel da prefeitura recolhê-lo na sua casa, com o lixo comum e o reciclável.

Segundo uma lei de 2010, chamada de Política Nacional de Resíduos Sólidos, cabe às empresas a responsabilidade de coletar e reciclar o lixo eletrônico. A questão é que só no ano passado (sim, quase dez anos depois) a lei foi regulamentada. Em outubro de 2019, entidades que representam fabricantes, importadoras, distribuidoras e comerciantes de produtos eletrônicos e o governo federal assinaram o Acordo Setorial de Logística Reversa de Eletroeletrônicos.

As organizações se comprometeram, em um prazo de cinco anos, a promover o descarte correto de pelo menos 17% do eletrônico que é jogado fora no Brasil. O acordo também prevê a implantação de 5.000 pontos de coleta de lixo eletrônico nas 400 maiores cidades do país (com população superior a 80 mil habitantes), o que corresponde a cerca de 60% da população.

Há ainda a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) 424/2010 que fornece critérios e padrões para descartar pilhas vendidas no Brasil. Lá diz que cabe à fabricante cuidar da bateria velha quando não for possível removê-la do aparelho, além de ser obrigada a fornecer pontos de coleta.

Busque pontos de coleta

Muitas cidades já dispõem de iniciativas de coleta e reciclagem de resíduos eletrônicos. Por conta da pandemia, o ideal é separar o lixo eletrônico em casa e fazer o descarte seguindo as recomendações dos governos municipais e estaduais, relacionadas ao isolamento social.

Em várias cidades no Estado de São Paulo e na capital, é possível encontrar pontos de entrega voluntária de lixo eletrônico. Veja aqui o que fica mais perto de onde você mora.

Na cidade de São Paulo, pontos de descarte também foram implantados pelo Movimento Greenk nos principais parques e em prédios públicos com o apoio da prefeitura. Saiba onde ficam.

Essa entidade da sociedade civil existe há mais de dois anos e, além de instalar locais de coleta, desenvolve um trabalho de educação ambiental em escolas da capital paulista. Em torneio com 150 escolas e 200 mil estudantes, feito no ano passado, ele conseguiram recolher 228 toneladas de lixo eletrônico.

"Nós focamos nos jovens da geração Z, os chamados nativos digitais, que nasceram assistindo [a animação] 'Wall-E' —que mostra as pessoas vivem fora do planeta porque o mundo está contaminado por lixo eletrônico. Eles são naturalmente mais sensíveis à questão ambiental, não por uma questão de hábito, mas por uma questão de sobrevivência", explica o diretor-geral do movimento, Fernando Perfeito.

No Rio de Janeiro, a prefeitura disponibiliza em seu site uma relação de entidades, cooperativas e empresas que possuem pontos de coleta de lixo eletrônico. Algumas oferecem a opção de ir buscar o material em residências ou empresas. Veja a lista aqui.

E se quiser seguir à risca a Política Nacional de Resíduos Sólidos, vale procurar a fabricante para descobrir a melhor forma de devolver a eles os resíduos. Veja, por exemplo, como Samsung, Apple, Motorola, LG, Lenovo e Dell orientam o descarte correto —clique no link de cada empresa para acessar as informações.

No Recife, existem locais onde é possível deixar resíduos eletrônicos instalados pelo Centro de Recondicionamento de Computadores da capital, que há dez anos atua tanto na coleta e reciclagem de lixo eletrônico quanto na formação profissional de adolescentes e jovens, com cursos gratuitos de recondicionamento de computadores, robótica e informática.

O importante aqui é que você entre em contato com a empresa de limpeza urbana da sua cidade ou pesquise na internet sobre o ponto de coleta de lixo eletrônico mais perto de você. Outra opção é se comunicar com a fabricante ou a empresa que vendeu o equipamento eletrônico que você quer jogar fora.

Fabiana Maranhão/UOL

Cuidados ao se livrar de lixo eletrônico

Você dedicou um tempinho para fazer o "detox digital", separou todos os eletrônicos que não usa mais, agora é só levar para o ponto de coleta mais próximo, correto? Ainda não. Antes de jogar fora equipamentos eletrônicos, principalmente celulares, tablets, notebooks e computadores, você deve apagar os seus dados.

"É muito importante você, no caso de celulares, fazer a restauração do sistema, apagar todos os dados, desvincular da sua conta do seu fabricante e retirar o chip. E no caso dos computadores, fazer a formatação de HD", explica Fernando Perfeito.

É preciso ter cuidado também com a entidade ou empresa que vai receber o seu lixo eletrônico. "Não entregue material a empresas que não tenham licenciamento ambiental. O resíduo eletroeletrônico, se não é bem manipulado, pode gerar poluição e contaminação em escala, tanto ao meio ambiente quanto à saúde humana", alerta Sávio França, um dos fundadores do Centro de Recondicionamento de Computadores do Recife.

Por que descartar o lixo eletrônico corretamente?

Guilherme Melo, professor do Departamento de Eletrônica e Sistemas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), afirma que a maioria das pessoas não descarta o seu lixo eletrônico de forma correta pelo "desconhecimento do perigo que este lixo traz para o meio ambiente e para nós mesmos". "Nunca se deve descartá-lo com o lixo comum. Nunca deve-se queimá-lo. Nunca deve-se descartá-lo na natureza", ressalta.

Para fabricar equipamentos eletrônicos, são usados dezenas de materiais e elementos químicos, como plásticos, borrachas, ferro, cobre, alumínio, chumbo, lítio, cádmio, níquel, fibra de vidro e até ouro.

"Essa lista de materiais e elementos químicos é grande. O problema é que alguns são tóxicos, alguns chegam a demorar centenas de anos para se decompor na natureza. O chumbo, que pode estar presente no lixo eletrônico, ao ser descartado na natureza, pode contaminar o lençol freático, os rios e voltar para nos contaminar dentro de alimentos como peixes e crustáceos".

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