A curiosidade e as dúvidas são os nossos motores, a tecnologia é o que nos permite ter as respostas mais precisas. Um dia, um grupo de cientista teve a brilhante ideia de sequenciar o genoma humano para saber do que somos feitos e isso, trinta anos depois, virou uma ferramenta quase banal de entendimento da nossa identidade. Destrinchar aquilo que nos torna únicos num padrão de As, Cs, Gs e Ts, as bases nitrogenadas do DNA, abriu caminhos inimagináveis, mas também transformou nossa identidade mais íntima e incorruptível numa espécie de "código de barras" fácil de entregar.
Até bem pouco tempo, isso não era lá uma grande questão na nossa vida — era preciso um pedido da Justiça e um exame caríssimo para achar o pai biológico de alguém, e colher saliva ou fio de cabelo era coisa de investigador de filme policial ou programa de auditório. Hoje, qualquer pessoa entrega seu DNA na farmácia para saber, em questão de horas, se carrega o coronavírus. Chegamos num ponto em que precisamos repensar as fronteiras do acesso à informação pessoal.
Em 2019, um levantamento publicado na revista "MIT Technology Review" dizia que 26 milhões de pessoas já tinham cedido amostras para exames genéticos de saúde ou ancestralidade. Difícil saber com precisão em que pé estamos agora, em meio à pandemia, mas um levantamento da organização brasileira Coding Rights aponta para 100 milhões de testes feitos até o final de 2021.
Existe um banco gigantesco de DNA, e precisamos, no mínimo, falar sobre cuidados e estabelecer algumas regras.