Um dia ensolarado, o cenário inesquecível de Inhotim, instituto de arte contemporânea de Brumadinho (MG), num fim de semana com a namorada, que havia acabado de voltar do Japão. Parece perfeito, não é? E seria, se Mathias Luz, 29, analista de SEO, não tivesse tido uma crise súbita de ansiedade no meio do passeio.
A vibe era boa, mas Mathias conta que não conseguia aproveitar o lugar nem entender as obras que observava. Estava dividido entre fotografar os momentos com uma câmera, para ter um registro completo e postar depois, ou com o celular, para colocar as imagens nas redes sociais imediatamente.
O que era pra ser uma experiência muito gostosa, um fim de semana juntos, acabou com uma sensação muito ruim. Não sei explicar. Notei que aquilo me gerava uma ansiedade muito grande
A crise fez Mathias perceber que estava dedicando tempo demais à vida virtual e, pior, aquela não era a primeira vez que estragava um encontro por conta do vício em tecnologias. "Nessa análise, me dei conta que no verão de 2018 estava em um café com a minha companheira, em Florianópolis [SC], e lembro que mergulhei nessa mesma confusão, senti a mesma ansiedade", diz. "Mas também entendi que não fazia sentido ficar sofrendo com coisas banais."
Foi quando ele decidiu fazer alguns testes: deixar o celular longe, checar as redes só nos intervalos do trabalho, cancelar alguns perfis. Nesse processo, Mathias fez um experimento bastante sistematizado, com métricas sobre o número de crises de ansiedade, de interrupções no trabalho pelo celular e dos momentos em que estava mais presente com as pessoas que gostaria de estar perto.
"A ideia inicial era diminuir o uso, não achava que era grave a esse ponto. Mas acabei descobrindo que para mim era tudo ou nada", conta. Após três meses de análise, cometeu suicídio virtual. Saiu de vez do Facebook, do Instagram, do WhatsApp e até do Linkedin, naquele momento o principal meio de promoção do seu trabalho.
"O meu maior medo era sair do Linkedin, porque atuo na área digital e achava que não conseguiria mais trabalho", diz. Superada a barreira e cancelada a conta na plataforma, a maioria dos seus clientes hoje chega pelo bom e velho boca a boca. "Eu consigo ter mais profundidade no que faço e gero mais resultados", diz.
Também sobra mais tempo para ler e aproveitar a namorada --que, vale dizer, foi conquistada pelas redes e 'convertida' para a vida real. "Aquilo atrapalhava meu relacionamento, agora consigo priorizar melhorar as coisas", diz.
Hoje eu consigo colocar limites para o uso do celular, não me sinto mais escravo dele