Uma foto pública no Instagram, com nome, localização e algumas hashtags, é bem mais útil do que os críticos da "blogueiragem" imaginam. Para além de rostos filtrados, fotos de comida e cenários paradisíacos, uma postagem dessas pode ser a peça que faltava para montar um perfil de quem você é —do que gosta, onde mora, que restaurante frequenta, onde estudou, em quem vota, quem admira, para que time torce, se é gay, religioso e/ou ativista.
Até aí, você pode dizer que não tem nada a esconder ou não se importa —e, provavelmente, qualquer pessoa disposta a dar uma "stalkeada" conseguiria as mesmas informações. Mas o que chama a atenção na raspagem de dados, como essa varredura por informações é chamada, é o volume e o cruzamento de dados. E também como tudo isso pode ser usado, para o bem ou para o mal.
Na eleição passada, ficou claro como as campanhas pagaram máquinas de disparo de mensagens em massa para tentar convencer milhares de eleitores mais volúveis a votar em Fernando Haddad (PT) ou Jair Bolsonaro (sem partido).
Antes disso, o escândalo da Cambridge Analytica escancarou como os dados qualificados do Facebook (seus, dos seus amigos e dos amigos dos seus amigos) poderiam virar o jogo entre os indecisos —ou entre aqueles mais suscetíveis a acreditar em fake news e teorias da conspiração, por exemplo. Mas, se você perdeu tudo isso na época, provavelmente agora anda preocupado com o cenário pintado no filme "O Dilema das Redes".
Em todos esses casos, o uso dos dados já era impressionante. Agora, com a raspagem de dados, chegamos a um volume muito maior e com um grau de detalhamento ainda mais assustador. É a versão 2.0, que ganhou as manchetes na eleição municipal.