Quando Cícero Moraes saiu de casa para visitar a mãe e o padrasto em Sinop (MT) naquele dia, não imaginava que estava prestes a tomar outro rumo na vida. O designer, então com 28 anos, foi rendido por uma dupla de assaltantes que havia invadido a casa da família e, sem pensar direito, reagiu ao assalto. Depois de partir para cima dos invasores com socos, acabou levando um tiro de raspão na cabeça. Os criminosos foram embora, e ele ficou. Vivo, mas traumatizado.
Foram semanas sem sair de casa, com crises de pânico e uma costela quebrada. "Só conseguia pensar que quase morri e coloquei minha família em risco reagindo ao assalto", lembra. Nessa época, estudava para vencer o medo e a dor. Quando viu, estava digitando "reconstituição facial" no Google e mergulhando num hobby da adolescência: a arte forense.
Mesmo ele, um ateu, sorri quando seus (hoje muitos) amigos religiosos falam em "intervenção divina". Até então, ele era um freelancer que fazia avatares, mascotes e ilustrações tridimensionais usadas em propagandas. Mas, estudou tanto as técnicas para retratar graficamente pessoas desaparecidas ou mortas que desenvolveu extensões (plugins) para programas de modelagem 3D, como o InVesalius e Blender.
Tudo começou de forma amadora, mas os primeiros trabalhos já chamaram a atenção. Ele passou a colaborar com a Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) e foi notado por arqueólogos que usaram o software para digitalizar fósseis. Três anos depois, já veio o convite que mudou tudo: o grupo Arc-Team, da Itália, contratou-o para um projeto do Museu de Antropologia da Universidade de Pádua.