Se você chegou até aqui e quer saber se a Rússia é capaz de cortar a internet do mundo todo apenas "tesourando" os cabos marítimos, a resposta é não. Mas eles são, sim, mais frágeis do que parecem.
"Os cabos submarinos correm muito menos risco por parte das atividades do governo russo do que pelas quebras involuntárias provocadas por âncoras dos navios, redes de arrasto e outras atividades regulares no fundo do mar", diz Nicole Starosielski, professora na Universidade de Nova York e autora do livro The Undersea Network (A Rede Submarina, em tradução livre).
Em média, 200 deles sofrem danos assim por ano, de acordo com o International Cable Protection Committee (Comitê Internacional de Proteção aos Cabos). Isso acontece normalmente em águas mais rasas, com menos de 100 metros de profundidade. Como esses equipamentos funcionam com um modelo de redundância (backups), na maioria dos casos não há uma percepção de falha ou interrupção da comunicação.
Para a especialista, os cabos até podem ser cortados, mas seria preciso uma operação muito complexa para atingir em cheio a internet de um país como os EUA, então não é o cenário mais realista. Além disso, grande parte do conteúdo da web está em servidores norte-americanos, portanto um corte nos cabos não a isolaria tanto —isso pode variar de país para país.
Em um cenário mais pessimista, de ataque russo, Starosielski afirma que o reparo de todos os cabos levaria um bom tempo. "Há um número limitado de navios de manutenção a cabos capazes de fazer consertos. Então, levaria tempo para realizar os ajustes necessários e se deslocar pelo oceano para o próximo sistema quebrado. Muitas conexões com o resto do mundo falhariam", explica.
Como é impossível monitorar todos os cabos oceânicos em tempo real com a força militar disponível, é preciso aumentar proteções e investimentos, diz ela. Isso inclui mais redundância, diversificação de rotas dos cabos e descentralização das estações.
Ryan Wopschall, gerente geral da ICPC, também defende que quanto maior o número de cabos e maior a malha, mais difícil fica a interrupção das comunicações.
Embora a pesca e a ancoragem tragam riscos de blecaute potencialmente maiores do que as ações russas, as operadoras de internet têm empregado fortes medidas de segurança cibernética e de criptografia para proteger as informações, com articulação junto a governos.