Tilt: Uma crítica comum é que a sociedade ganhou vários direitos trabalhistas ao longo do último século e agora os apps "removeram" esses direitos, pois os entregadores precisam trabalhar muitas horas seguidas. Como vocês avaliam um cenário mais justo, entre ser autônomo e CLT?
Sergio Saraiva: Na manifestação de 1º de julho, o próprio movimento não demandou ser CLT. A economia compartilhada traz muito benefício relevante: flexibilidade, remuneração por hora, gorjeta de forma diferente. Isso começou com as empresas de transporte de passageiros, não é novo. Também não está restrito a essas áreas: tem o cara de manutenção, pintor, várias profissões autônomas. Se tivesse CLT, certamente teria um número menor de empregados, ficaria mais caro para o ecossistema, teria menos flexibilização de horas trabalhadas. Com a formalização dos apps de transporte, nosso setor passou a pagar imposto em uma atividade que não era vista pelo fisco. Acho que tem uma evolução bacana, mas é um processo que pode melhorar.
Tilt: Os aplicativos de delivery provavelmente sofrerão alguma regulamentação em breve. Existem dezenas de projetos na Câmara, leis de vereadores em SP... O que seria uma norma adequada para vocês?
Sergio Saraiva: Não queremos o fim de um tipo de serviço que gera tanto emprego e que passar por uma evolução. Todo projeto de lei passa por fóruns de discussão, tem que ouvir todas as partes, ouvir valores agregados e valores que atrapalham. Assim como os aplicativos de transporte de passageiros passaram por esse processo, deveríamos passar também.
Tilt: A Rappi tem uma certa fama entre usuários e entregadores de ser a empresa que paga menos a esses trabalhadores. Você teria números do pagamento dado atualmente?
Sergio Saraiva: Essa parte eu não sei se reconheço. Já ouvi de todos os lados. Já ouvi de outros, da nossa. Faltam talvez mais dados para discutir. Não nos beneficiamos do frete cobrado, repassamos tudo. A pandemia também afetou: imagina que tinha um número X de pedidos em fevereiro e cresceu bastante depois disso. Mas tinha um número de desempregados em fevereiro, e também autônomos, que multiplicou por cinco ou seis. Tem muito mais entregador de fato do que entregas sendo feitas. É muito desproporcional o crescimento.