Sirius é a estrela mais reluzente do céu noturno. Mas, em Campinas (SP), se você procurar por este nome será levado a algo muito diferente: um gigantesco acelerador de partículas, quase do tamanho do estádio do Maracanã, com 518 metros de circunferência e 68 mil m², construído na zona rural da cidade, no campus do Cnpem (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, entidade mantida e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Não por acaso, um dos projetos mais brilhantes da história da ciência brasileira.
Estamos falando de um laboratório de 4ª geração para produção de luz síncrotron, avaliado em R$ 1,8 bilhão, que só pode ser comparado ao MAX-IV, da Suécia. As pesquisas feitas ali estão no limite do que a física permite atualmente e alcançam escalas mínimas, no nível das partículas elementares (átomos e moléculas).
Imagine que este enorme anel metálico serve para fazer circular feixes de elétrons de forma tão rápida que formam linhas de luzes — as tais luzes síncrotron. Essa luminosidade funciona como um poderosíssimo raio-X, capaz de analisar rapidamente a estrutura interna de materiais orgânicos e inorgânicos.
O projeto brasileiro tem a luz mais brilhante do mundo, de qualidade incomparável, e um zoom único, de até 500 vezes.
"O que temos aqui, você não acha no Hemisfério Sul. Em relação à luz síncrotron, você não acha em nenhum lugar do mundo. Essa máquina está no limite da tecnologia mundial"
Fernando Bacchim, líder do grupo de proteção radiológica do Cnpem
Isso quer dizer que temos à disposição de nossos pesquisadores uma ferramenta 4D de alto nível, a forma mais moderna hoje de estudar em detalhes e de forma menos invasiva, por exemplo, vírus (como o novo coronavírus), proteínas, plantas, etc. E esse tipo de escrutínio pode apontar rapidamente caminhos para remédios e vacinas.
Chegamos para conhecer o complexo dias antes do isolamento social ser decretado em São Paulo e, sem saber que ficaríamos os próximos meses trancados em casa, percorremos todo o caminho que os elétrons fazem lá dentro. Olhando em retrocesso, foi simbólico dar aqueles passos por aquilo que nos coloca em um novo nível tecnológico, comprova o potencial da pesquisa nacional e traz esperança para o futuro —tudo o que precisamos hoje.