Negociações climáticas em Durban evidenciam abismo político
As negociações das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas tiveram início esta segunda-feira em Durban, África do Sul, em meio a indícios de um aprofundamento do abismo político sobre como conter as emissões de carbono.
No topo da agenda está o destino do Protocolo de Kioto, o único pacto global com metas para conter as emissões de gases causadores do efeito estufa, cuja primeira etapa de compromissos expira no fim de 2012.
Também se espera que a conferência leve adiante um "Fundo Climático Verde" com vistas a destinar 100 bilhões de dólares até 2020 a países expostos a seca, inundações, tempestades e mares em elevação, o que cientistas preveem que vão piorar este século.
Mas o humor nas negociações tem sido azedado por divisões sobre como dividir o fardo de corte das emissões, enquanto as nuvens negras de uma crise econômica global lançam uma sombra sobre o fundo climático.
"Estamos em Durban com um propósito: encontrar uma solução comum que possa assegurar um futuro para as próximas gerações", declarou Maite Nkoana-Mashabane, ministro sul-africano de Relações Internacionais, que preside o encontro de 194 países e 12 dias de duração.
"Com uma liderança sonora, nada é impossível aqui em Durban", declarou o presidente sul-africano, Jacob Zuma.
Mas a chefe climática da ONU, Christiana Figueres, alertou que as negociações precisavam urgentemente ganhar a confiança pública.
"Esta conferência precisa reassegurar os vulneráveis, todos aqueles que já sofreram e todos aqueles que ainda vão sofrer com as mudanças climáticas, de que uma ação tangível está sendo tomada para um futuro melhor", afirmou.
Figueres mencionou altas e níveis recorde de concentrações de gases causadores do efeito estufa e o número crescente de meios de vida atingidos pelas mudanças climáticas.
"A necessidade de ação nunca foi mais demandada ou realizável", afirmou. "Descobrir uma forma de se avançar nesta complexidade é o desafio desta conferência", acrescentou.
Segundo analistas e negociadores, estão em campo as divisões no âmbito da Convenção-quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), contrapondo ricos e pobres, ricos contra ricos e pobres contra pobres.
"Esta é uma das COPs (nr: conferência das partes) mais imprevisíveis", disse Tasneem Essop, do Fundo Mundial para a Natureza (WWF) Internacional, usando o jargão utilizado para reuniões climáticas de alto nível.
"Tudo é fluido, tudo ainda está em andamento", acrescentou.
As nações ricas que participam do Protocolo de Kioto estão empacadas em demandas para renovar seu compromisso de corte de emissões depois de 2012.
Eles argumentam que tal medida seria um disparate uma vez que os dois principais emissores - a China, que enquanto país em desenvolvimento não tem metas específicas previstas no tratado, e os Estados Unidos, que se recusaram a ratificá-lo em 2001 - não estão submetidos a restrições similares.
"Durban caminha para um impasse, francamente, e não há forma de disfarçar isto", afirmou no domingo um veterano observador que participa das negociações.
"Há poucas opções sobrando a menos que a posição destas grandes economias se suavize consideravelmente", acrescentou.
Em um comunicado à imprensa, o bloco de 132 países em desenvolvimento atacou alguns países ricos "que insistem em posições inflexíveis que tornam bem difícil fazer um avanço real" nesta conferência.
No entanto, também há rachas neste bloco.
Países que são os mais pobres e mais vulneráveis temem que os chamados países Basic - Brasil, África do Sul, Índia e China - que hoje são grandes emissores - queiram retardar um pacto global até 2020.
Se o Tratado de Kioto não for renovado o único modelo para combater as emissões de gases estufa serão os compromissos voluntários, lançados em 2009 em um acordo acertado às pressas ao final da conturbada conferência de Copenhague.
Mas o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) afirma que estes compromissos não seriam suficientes para limitar o aquecimento global a 2ºC com relação aos níveis pré-industriais, uma meta acertada no ano passado.
Para ter uma chance "provável" de alcançar esta meta, as emissões anuais precisariam cair cerca de 8,5% até 2020 em comparação com os níveis de 2010 e manter sua queda em cerca de 2,6% ao ano depois disso.
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