Topo

Supergene explica comportamento social da formiga-de-fogo

Em Paris

17/01/2013 12h58

A complexa estrutura social da formiga-de-fogo (Solenopsis invicta) é possibilitada por uma fusão de DNA conhecida como supergene, segundo artigo publicado na revista Nature. Este é o primeiro estudo a vincular supergenes ao comportamento animal, antecipando que um efeito similar pode ser encontrado em outras espécies.

O inseto de rápida disseminação e invasivo, que ganhou esse apelido por causa da sua picada dolorosa, é nativo da América do Sul e comum no Brasil.

As formiga-de-fogo se organizam em dois tipos distintos de estrutura social, um com uma rainha única para toda a colônia e outro com centenas de rainhas. Embora pertençam à mesma espécie, as operárias de cada grupo matariam as rainhas do outro, explicaram os pesquisadores.

Os dois grupos também diferem psicologicamente entre si. Um produz rainhas grandes que acumulam muita gordura e saem para iniciar novas colônias, onde alimentam suas primeiras larvas com as próprias reservas corporais. O outro grupo produz rainhas menores que permanecem em uma colônia estabelecida com as operárias e as outras rainhas.

Os cientistas identificaram previamente uma variação genética entre os dois grupos, mas tiveram dificuldades em explicar como uma única mutação genética poderia gerar tantas diferenças psicológicas e sociais.

"As pessoas especularam que poderia ser um supergene e agora isto se confirmou", disse o biólogo Andrew Bourke, da Universidade de East Anglia, em um comentário do artigo.

"Há outros casos conhecidos em que supergenes afetam traços complexos. Mas este é o primeiro caso em que se mostra um supergene sustentando um comportamento social complexo em um animal", acrescentou.

Um supergene é um arranjo de genes vizinhos em um cromossomo que, de alguma forma, se fundem e são passados adiante de geração para geração sem alterações.

Neste caso, os cientistas encontraram duas variações de um supergene em um par de cromossomos da formiga, compreendendo mais de 600 genes ou cerca de 60% do cromossomo.

"Esta é a primeira descrição de um cromossomo social", escreveram os autores. "É provável que estes supergenes que afetam a organização social também existam em outros insetos", acrescentaram.

Segundo Bourke, no que diz respeito aos seres humanos, até agora não há evidências de que supergenes estejam envolvidos em nossa organização social.

O autor principal do estudo, Laurent Keller, afirmou que as descobertas podem ser úteis para combater a praga de formigas. Ele poderia levar à fabricação de um produto químico com uma versão sintética da parte do supergene que faz as operárias matarem as rainhas rivais, o que faria o grupo se voltar contra as suas próprias rainhas, eliminando a colônia.