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Estímulo cerebral pode tratar dependência de cocaína, mostra estudo

Em Paris

03/04/2013 17h38

Estudos feitos em ratos demonstraram que estimular uma região adormecida no cérebro pode reduzir a abstinência de dependentes de cocaína, uma técnica que também pode funcionar em humanos, afirmaram cientistas nesta quarta-feira (3).

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Uma equipe de cientistas dos Estados Unidos treinou ratos para se "autoadministrar" cocaína ao pressionar duas alavancas.

Depois de algumas semanas de treinamento, os ratos levaram um choque elétrico de intensidade média sempre que buscavam a droga, fazendo com que 70% deles desistissem, escreveram os cientistas na revista científica Nature.

Mas uma minoria "compulsiva" continuou procurando a droga, assim como ocorre com os dependentes humanos.

A equipe de cientistas mediu a atividade cerebral no córtex pré-límbico, parte do cérebro envolvida no controle de impulsos nos dois grupos de ratos. Eles descobriram que a atividade caiu nos dois grupos, mas de forma mais marcante no grupo de compulsivos.

Quando os cientistas "ativaram" os neurônios desligados, usando estímulo optogenético, o comportamento compulsivo em busca de cocaína parou, disse o autor Antonello Bonci, do Instituto Nacional de Abuso de Drogas em Maryland. E eles também poderiam fazer os ratos não compulsivos voltarem a ficar compulsivos inibindo os neurônios.

"Esta nova pesquisa mostra que o estímulo nesta parte do cérebro reduz os comportamentos de dependência, como a busca por cocaína", explicou Bonci por e-mail à AFP.

Tratamento para humanos

Ele disse que as descobertas trazem uma esperança para os humanos, destacando que estudos anteriores demonstraram uma atividade reduzida no córtex pré-frontal de usuários de cocaína.

Nos humanos, no entanto, um tipo não invasivo de estímulo seria usado, tal como o estímulo magnético transcraniano (TMS, na sigla em inglês), no qual pulsos magnéticos estimulam uma área pequena da superfície do cérebro.

Em contraste, o estímulo optogenético usado com ratos envolve a implantação de fibras ópticas no cérebro de um animal para excitar ou inibir as células cerebrais em resposta a estímulos de luz.

As técnicas de estímulo cerebral não invasivas, como o TMS, já são usadas para tratar uma série de doenças em humanos, inclusive a depressão.

"Nossos resultados podem ser traduzidos imediatamente no ajuste de pesquisa clínica em humanos", disse Bonci. "De fato, estamos planejando testes clínicos para usar metodologias de estímulo cerebral como o TMS."

A mesma região do cérebro não pode ser envolvida na dependência de todas as drogas ou em todas as pessoas, disse Bonci.

"Minha especulação e esperança é que devemos ter casos em que um simples aumento da atividade na região cerebral, como a região pré-límbica, pode reduzir os sintomas, mas estamos longe de uma terapia para todas as drogas de abuso", acrescentou.