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Peru usa drones para pesquisas arqueológicas e ambientais

Em Lima

23/08/2013 11h30

Veículos aéreos não tripulados, popularmente conhecidos como drones, vasculham os céus do Peru com fins civis de pesquisa em arqueologia e agricultura, e não apenas em operações de inteligência militar em vales dominados pelo cultivo da coca.

À simples vista, os drones parecem pequenos aviões de aeromodelismo. Todos são controlados remotamente, mas alguns mais sofisticados conseguem voar com plena autonomia, graças a programas de computador.

"As aeronaves são de pequeno porte, são dotadas de câmeras de vídeo ou de foto de alta resolução e passam praticamente despercebidas no céu", contou à AFP Andrés Flores, engenheiro eletrônico e encarregado do Grupo de Sistemas de Aeronaves Não Tripuladas da Pontifícia Universidade Católica do Peru (PUCP).

Flores lidera uma equipe multidisciplinar de cientistas que, sob o guarda-chuva da PUCP, se tornou uma usina de projetos e promove o desenvolvimento para uso civil dos drones.

"Até o momento conseguimos aplicar seu uso para fins agrícolas em terras de cultivo, onde coletam informação sobre a saúde das plantas e, em arqueologia, para conhecer melhor as características de cada local e as extensões que ocupam", explicou Flores.

Segundo o cientista, "estes são dois campos onde se requer grande precisão e de todos os dados possíveis para otimizar os trabalhos".

Trama da cidade

O arqueólogo Luis Jaime Castillo, que chefia uma pesquisa sobre ruínas da cultura moche (pré-incaica, 700 d.C) em San Ildefonso e San José de Moro, na costa norte peruana, usa quatro drones em seu trabalho.

"Podemos transformar as imagens [que nos fornecem] em dados através da topografia e da fotogrametria para construir modelos tridimensionais", destacou em conversa com a AFP.

"Através das fotos que são tiradas é possível perceber paredes, pátios, a trama da cidade" e os elementos existentes no local, acrescentou o arqueólogo.

Entre os usos potenciais dos aviões sem piloto, além do levantamento de reservas arqueológicas e naturais, estão a inspeção de desastres naturais, de tráfego urbano e segurança nas cidades. Em regiões de selva, por exemplo, podem ser usados para investigar a fauna silvestre, segundo especialistas.

"Cada vez que um animal passa, uma foto é tirada", disse Flores.

"Tudo depende do uso que será dado aos drones", acrescentou para explicar as dificuldades de impor seu uso com fins civis enquanto o sistema é marcado pelo estigma das operações militares secretas.

Minicomputador programado

Equipados com um minicomputador, um GPS, uma bússola e um altímetro, os drones são facilmente programados usando-se o aplicativo Google Maps.

Os pesquisadores da PUCP os fabricam com fibra de carbono e madeira leve. Voam abaixo das nuvens porque um céu nublado impede seu uso, disse Aurelio Rodríguez, aeromodelista e arqueólogo que os constrói e ensina como usá-los.

No Peru não há regulamentação para o uso civil dos drones, o que permite impulsionar todo tipo de projeto privado, mas o grande problema, admitiu Flores, é que sua aplicação em vigilância urbana pode atentar contra a privacidade das pessoas, o que torna necessária uma regulamentação.

Hildo Loayza, físico que trabalha em aplicativos com drones para a agricultura no centro internacional da batata, em Lima, explicou à AFP a diferença entre estas máquinas e os seres humanos: "os drones permitem resolver os problemas com objetividade, enquanto as pessoas o fazem com subjetividade".

"Na agricultura, os drones permitem aproveitar uma área maior de cultivo e avaliar a saúde das plantas e o crescimento do cultivo. As câmeras que os drones usam oferecem 500 dados de alta tecnologia, enquanto o (olho) humano coleta apenas 10", afirmou Loayza.

A precisão de suas imagens permite medir a luz da energia solar, diferenciar os males da planta como o estresse por calor, por seca e por escassez de nutrientes, entre outros", destacou.

Em junho passado, o uso de drones com fins civis foi posto em destaque durante a conferência TEDGlobal (Tecnologia, Entretenimento, Design) de Edimburgo, onde se destacou que os aviões não tripulados do futuro poderão mapear selvas tropicais, analisar condutas animais, transportar medicamentos a locais remotos ou realizar ataques sem a intermediação direta do ser humano.