Topo

Altamente tóxico, polônio serve para pesquisa médica e nave espacial

Em Paris

14/10/2013 17h53

O polônio, substância tóxica que cientistas suspeitam pode ter sido a causa da morte do líder palestino Yasser Arafat, em 2005, é uma substância altamente radioativa, que quase não pode ser encontrada fora de círculos científicos e militares.

Especialistas suíços em radiação confirmaram ter encontrado traços de polônio nas roupas usadas por Arafat, o que "sustenta a possibilidade" de que o veterano líder palestino tenha sido envenenado.

Arafat morreu na França em 11 de novembro de 2004, aos 75 anos, mas os médicos que o examinaram não conseguiram especificar a causa de sua morte. Não foi realizada necropsia na época, atendendo a um pedido da viúva.

Seus restos mortais foram exumados em novembro de 2012 e amostras foram coletadas, em parte, para investigar se ele foi envenenado - uma suspeita que aumentou após o assassinato do ex-espião russo e crítico do Kremlin Alexander Litvinenko em 2006.

A investigação, que está em andamento, é realizada separadamente por equipes da França, da Suíça e da Rússia.

Substância para pesquisa 

Também conhecido como rádio F, é um metaloide raro, porém de ocorrência natural, encontrado em minérios de urânio que emitem partículas alfa altamente perigosas ou carregadas positivamente.

É um semimetal cinza-prateado, de massa atômica 2010 (símbolo 210Po), número 84 na tabela periódica dos elementos de Mendeleev e que se sublima (passa do estado sólido ao gasoso) com rapidez, a partir dos 50 graus centígrados. Sua meia-vida, prazo no qual perde a metade de sua atividade, é de 138 dias.

Solúvel, muito tóxico em doses ínfimas por inalação ou ingestão, o polônio está presente na fumaça dos cigarros. Por si só, pode provocar câncer por inalação nos animais de laboratório.

É utilizado normalmente como fonte de raios alfa para a pesquisa e a medicina, mas também, entre outras coisas, como fonte de calor nos veículos espaciais.

O polônio foi o primeiro elemento descoberto, em 1898, pela física francesa de origem polonesa Marie Sklodowska-Curie, em colaboração com seu marido, Pierre Curie. Em homenagem ao seu país natal, deu a este elemento o nome de polônio.

Após a descoberta de "raios urânicos" por Antoine Becquerel, Marie Curie realizava pesquisas sobre a radioatividade de pechblenda procedente das minas de prata da Boêmia.

A pechblenda, que contém essencialmente polônio, é um óxido de urânio utilizado há vários séculos como aglutinante nos vernizes para cerâmica. No entanto, em 10 gramas de urânio há, no máximo, um bilionésimo (0,000000001) de grama de polônio, o mais raro dos elementos naturais.

Outros casos de envenenamento

O polônio foi utilizado para envenenar em 2006 em Londres Alexander Litvinenko, um ex-espião russo que se converteu em opositor do presidente Vladimir Putin.

A Rússia se negou a extraditar um ex-agente dos serviços secretos soviéticos (KGB), principal suspeito do homicídio de Litvinenko, considerado o primeiro "assassinato radiológico" conhecido.

A morte de Litvinenko, que acabava de receber a nacionalidade britânica, comprometeu as relações entre a Grã-Bretanha e a Rússia, que se deterioraram a níveis não vistos desde a Guerra Fria, depois que a Scotland Yard confirmou que sua morte havia sido um assassinato.

No caso de Arafat, o Institute for Radiation Physics de Lausanne (Suíça), que analisou amostras biológicas extraídas de seus objetos pessoais entregues a sua viúva pelo hospital militar francês de Percy, onde morreu no dia 11 de novembro de 2004, descobriu ali "uma quantidade anormal de polônio", segundo um documentário divulgado pela rede de televisão Al-Jazeera.

Arafat ficou doente em seu quartel-general de Ramallah, na Cisjordânia, sitiado pelo exército israelense, e faleceu no dia 11 de novembro de 2004 em Percy.

Sua morte é um enigma. Os quase 50 médicos que o atenderam não informaram a razão exata da rápida deterioração de seu estado de saúde. Os palestinos acusaram Israel de tê-lo envenenado.