Limitar aquecimento global a 1,5°C: realidade ou quimera?
Limitar o aquecimento do planeta a 1,5º Celsius, um dos objetivos assumidos na Cúpula do Clima de Paris em dezembro, foi visto como uma vitória pelos países pobres, os mais vulneráveis às mudanças climáticas. Os cientistas, no entanto, consideram que cumprir esta meta é quase uma quimera.
Com ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, que se comemora anualmente em 5 de junho, a AFP reuniu a opinião de especialistas sobre o tema.
"Será muito difícil, se não impossível, manter o aquecimento em 1,5º C durante todo o século XXI", opina Jeori Rogelj, do Instituto Internacional para a Análise de Sistemas Aplicados em Laxenburg, na Áustria.
Inclusive nos cenários mais otimistas, as emissões de gases do efeito estufa poderiam fazer com que o planeta ultrapasse esse limiar antes de 2050, afirma o cientista à AFP, visto que o termômetro já subiu 1º C desde a era pré-industrial.
Mesmo que eliminássemos amanhã todas as máquinas que funcionam à base de petróleo, gás ou carvão, os gases já presentes na atmosfera continuariam fazendo subir a temperatura.
"Depende de se somos capazes de retirar grandes quantidades de dióxido de carbono da atmosfera", diz Rogelj, lembrando que, no estado de conhecimento atual, a indústria não domina a técnica de captação e armazenamento de CO2 em grande escala.
Além disso, o mundo continua sendo muito dependente das energias fósseis - responsáveis por 80% das emissões mundiais de gases do efeito estufa -, mesmo com a contínua evolução das energias renováveis, que correspondem a uma parte cada vez maior da produção de eletricidade.
Levará tempo, mesmo que o acordo adotado em dezembro em Paris acelere a transição energética, esta levará tempo.
Desde 2009, quando foi realizada a COP de Copenhague, os negociadores já discutiam sobre a proposta de não ultrapassar os 2º C.
Na COP-21 de Paris, esse aumento e os impactos que ele implica - subida do nível dos oceanos, agravamento das secas ou fortes tempestades - fizeram com que os países pobres e os estados insulares, os mais expostos, pressionassem para que um objetivo mais ambicioso fosse alcançado.
"Incluir no acordo o aumento de até 1,5ºC era um objetivo moral", considera Saleemul Huq, diretor do Centro Internacional sobre as Mudanças Climáticas e o Desenvolvimento em Daca, em Bangladesh.
Os grandes Estados emergentes e os países exportadores de petróleo, preocupados com o impacto que este acordo teria nas suas economias dependentes das energias fósseis, rejeitaram a proposta.
Finalmente, se chegou a um consenso: a comunidade internacional se comprometeu a limitar a subida da temperatura "muito abaixo dos 2º C" e a "continuar os esforços" para alcançar a meta dos 1,5º C.
Como reduzir o nível das emissões e em que prazo ainda são duas das muitas zonas cinzentas do texto de Paris.
O Grupo Intergovernamental de Especialistas Sobre a Evolução do Clima (Giec), a autoridade científica de referência sobre o clima, considera que seria necessário reduzir as emissões entre 40% e 70% antes de 2050 para que haja alguma possibilidade de alcançar a meta dos 2ºC.
Consciente da extrema dificuldade da tarefa e assumindo que os países não estarão à altura, Saleemul Huq insiste que o acordo "é a vara que utilizaremos para fustigar todo mundo e fazer com que vão mais rápido".
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